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sábado, 28 de julho de 2018

Tabuleiro - Via Torres del Pânico

Parque Natural Municipal do Tabuleiro

Relato da escalada pela Via "Torres del Pânico" 

~300mts 8B VIIIc E2 D3/D5 mista


Era uma última semana de julho, auge da temporada de escalada no Brasil, o tempo era bom: frio e seco; já se passavam semanas ou meses sem chuva em Minas Gerais. Finalmente o Fred Moreira e eu conseguimos nos organizar e fechar o plano de tentar repetir a via "Torres del Pânico". Seria minha primeira vez escalando no Tabuleiro, o Fred já havia ido outras 3 vezes - sendo uma delas nesta mesma linha - além de investidas para conquista das novas linhas nos pontões das laterais do paredão principal, as quais estão em franco desenvolvimento atualmente.

Organizar empreitadas deste tipo nunca é tarefa fácil, é necessário estar bem fisicamente, ter confiança mental suficiente, condições climáticas favoráveis e dentre outras coisas também a disponibilidade de tempo - ainda mais para escalar em dias de semana como exige o parque municipal do Tabuleiro, medida tomada devido ao risco de queda de pedras no grande número de banhistas que frequentam o poço da cachoeira durante o fim de semana). Mas enfim.. escalar aquele paredão era um sonho antiquíssimo para mim, a imensidão da parede cortada pela linda queda d'água são motivos de sobra para desejar viver a experiencia intensa de se comprometer pedra a cima, jogando com o equilíbrio mental e doando toda energia física para aquele ambiente natural surreal.

Figura 1: Foto do paredão da cachoeira do Tabuleiro na época do verão: queda d'água forte e vegetação verde intensa. A linha em amarela é da via Hidronotopo, enquanto a vermelha marca o traçado da via "Torres del Pânico"

Crédito original da foto: Texto da Nereida Rezende no blog extremos: http://www.extremos.com.br/Blog/Nereida_Rezende/170118_nereida_no_tabuleiro/ 

Preparação e ida BH->Tabuleiro


Saímos numa quinta a tarde de Belo Horizonte, sem nenhuma pressa.. passamos pelo Cipó, enrolamos um pouco com os amigos e depois seguimos para o Tabuleiro (~1,5hrs de BH->Cipó e +~1,5hrs do Cipó->TABU). Chegando na vila tomamos uma cerveja num buteco bem massa, o qual tinha o teto todo decorado com aqueles artesanatos de "apanhador de sonhos" - bom sinal para nós, afinal, era justamente o que estávamos tentando fazer. O pessoal do bar nos indicou uma janta caseira incrível na vila do Tabuleiro, restaurante na casa da Fátima se não me engano, abre todo dia da semana pelo menos até as 20hrs.

Após comermos, seguimos pra portaria do parque, chegando lá por volta das 21hrs. Fomos muito bem recebidos, entregamos o termo de compromisso - obrigatório para todos que vão praticar a escalada - link para acesso ao termo de liberação para esportes de aventura no Tabuleiro: https://drive.google.com/open?id=1DGDVCTLExy4S-v8VmNnFnUC0VCCJTu53 . Como de costume para qualquer um que vá escalar, o pessoal do parque liberou nossa pernoite na varanda próxima aos vestiários. Isto permite uma ótima logística de ataque ao cume, pois ao acordar, é só tomar um café rápido e já está com o pé na trilha.

Havíamos levados crashpads para utilizarmos como colchão, saco de dormir por cima e pronto! Pernoite privilegiada com a lua enorme iluminando toda a silhueta do relevo. A imensidão da parede estava logo ali, era possível visualizar toda sua extensão sombreada, mas nenhum detalhe era revelado.

escalada na via torres del pânico no tabuleiro minas gerais
Foto 2: Quarto 5 estrelas na sede do parque municipal do Tabuleiro, alegria dos escaladores. Fredão organizando o equipo e crashpads prontos para dormirmos.

Antes de dormir separamos todo o material necessário para a investida, deixamos o café da manhã semi preparado e as mochilas de ataque prontas com frutas, doces, paçoca e água. Optamos pelo plano de agilidade máxima, sem intenção de passar a noite na rocha. Levamos de equipamento coletivo:

  • 2 cordas de ~70mts, 
  • 1 jogo de friends, 
  • 18 costuras (dentre curtas e longas), 
  • 1 canivete suíço (aulas do mestre Gustavo Vianna, nunca faça uma parede sem um canivete). 
  • 1 grigri,
  • 1 roldana micro traxion (para o guia içar as mochilas após concluir cada enfiada - Muito útil), 
  • 1 T-block (caso fosse necessário vencer algum lance blocando pela corda), 
  • 2 cliffs (para emergências no caso de precisar vencer algum lance duro, mas no momento que foram solicitados, não encontramos eles na mochila)
  • 1 mochila camelback bem pequena com 1,5 litro d'água e guloseimas de rango
  • 1 nalgene com 1,4lts d'água,
  • 1 mochila ataque 22lts (pra levar o rango inicial, tênis e guardar os móveis depois da enfiada mista do início).
De Equipamento individual, levamos:
  • 1 fifi hook, 
  • 1 kit parada, 
  • Solteira, cadeirinha, sapatilha e magnésio
  • head lamp, 
  • ATC reverso,
  • Prussick 
  • 1 segunda pele e 1 corta vento.
  • capacete
escalada na via torres del pânico no tabuleiro minas gerais
Foto 3: Parte do equipamento utilizado para a escalada. Detalhe no micro traxion, que ajudou muito a içar as mochilas, e também na fifi hook, o qual agiliza muito nas "pedidas pra travar" durante as guiadas.

Inicio da atividade: trilha


O despertador tocou as 5:00 da manhã, era 27 de julho, logo começou o som do fogareiro pra quele café preto rapidex, de resto era pão e umas frutas, nada de panela, guardamos tudo que não seria usado dentro do carro e as 6:00 hrs iniciamos a caminhada. Descemos já vestidos com a cadeirinha, até capacete eu já fui vestido.. mochila, corda passada no pescoço e simbora! os primeiros raios de sol já dispensava uso da headlamp. Às 6:45 alcançamos o poço da cachu, onde contemplamos a beleza magnífica do local e tentamos reconhecer o esboço da linha que iríamos escalar. Santa mãe natureza!


escalada na via torres del pânico no tabuleiro minas gerais
Foto 4: Iniciando a trilha. 6 da matina em ponto.


escalada na via torres del pânico no tabuleiro minas gerais
Foto 5: Base do poço. foram 45 minutos de caminhada a partir da sede do parque. No traçado está a linha da via Torres del Pânico e minha sugestão de graduação aproximada das enfiadas.

Primeira parte da escalada: Base até o platô principal

Demos a volta no poço caminhando pela direita e por volta das 7:00hrs o Fred começou a guiada do 5º grau de aproximação (foto 6). Este é o primeiro contato com a escalada no Tabu: é uma chaminé duns 5 metros de altura seguida duma travessia lateral para a esquerda de ~20 metros, bem tranquila,  terminando no pequeno platô onde inicia-se o maravilhoso 7B misto. Após o sétimo grau, vem um 6º grau móvel exposto de ~20mts, em diagonal direita na direção óbvia do platô principal, o de bivaque. 

Estas 3 primeiras enfiadas podem ser feitas com apenas duas paradas, o ideal é emendar a 2ª na 3ª. A chegada no platô principal marca mais uma etapa da aventura, até aí o percurso é o mesmo da "Hidronotopo", a qual é a via de escalada mais famosa do Tabuleiro. A partir deste platô, a "Hidronotopo" segue em linha reta/diagonal esquerda, enquanto a linha da "Torres del Pânico" segue cerca de 20/30mts para a direita após uma travessia feita apé, acima da cozinha principal do platô, 

Foto 6: Fred iniciando a primeira guiada. o 5º de aproximação que dá acesso ao primeiro pequeno platô.

escalada na via torres del pânico no tabuleiro minas gerais
Foto 7: Eu guiando o 7B móvel incrível. Esta enfiada, pode ser emendada com o 6º grau mostrado na próxima foto. Agilizando a chegada no platô principal.



escalada na via torres del pânico no tabuleiro minas gerais
Foto 8: Fred chegando no platô principal. Escalando a travessia 6º grau.

Descrever o 7B misto que dá acesso ao platô principal é fácil: O prazer da escalada! agarras boas, técnica de diedro incrível, crux diluído.. remadas em lacas e fendas laranjas e amarelas. Os móveis se concentram na primeira metade da via, logo as chapas vão aparecendo e o uso dos friends torna-se esporádico. Costuras de fitas bem longas ajudam a emendar o 6º grau móvel que vem na sequência. Vale muito a pena juntar estas duas enfiadas, pois o 6 grau é muito curto.. uns 20 metros.. encontrei duas posições pra protege-lo em móvel.. é exposto mas é fisicamente mais tranquilo se comparado com a sequencia anterior do sétimo grau.



escalada na via torres del pânico no tabuleiro minas gerais
Foto 9: Cozinha oficial do platô do bivaque. Logo atrás de mim, no chão, está a fogueira de preparar o café do bivaque.

A fenda horizontal ao lado do Fred oferece boa proteção contra o vento e até chuva. Os copos e isolantes jogados pelo chão parecem ficar constantemente por lá.

Nesta foto, é possível ver claramente a primeira chapa da seção de oitavos grau da "Torres del Pânico" acima da minha cabeça à direita esta a primeira chapa. O Fredão ia se preparando.. era a vez dele de guiar!

O sexto grau termina no platô principal do Tabuleiro, o qual faz uma espécie de marquise em boa parte do paredão próximo a queda d'água. Não é uma lage tão perfeita ao ponto de permitir caminhar por de trás de toda queda d'água, mas na porção que se chega,é bem amplo, possui inclusive uma boa parte protegida do vento e até mesmo de chuva. Dormir ali é certamente uma experiencia privilegiada.

Segunda parte da Escalada: Seção 8º grau da via

Esta segunda parte da via difere bem da etapa até o platô principal. A partir daí são mais três 8ºB/C, um 7C e mais o 8C do final. As proteções são todas fixas, no entanto utilizamos um friend numa passada do terceiro 8B/C. A escalada é no geral bem protegida, mas a vontade de vacar é sempre zero, principalmente no diedros com colunas de pedra por todos os lados e também nas seções onde o escalador muda de face na rocha e a corda vai em diagonal pelas arestas.

Para chegar no ponto exato de saída do primeiro 8º, deve-se caminhar uns 20/30 metros a pé para a direita, contando a partir da parada do último 6ºgrau; passando inclusive por uma faixa do platô que exige mais cuidado na caminhada, perto de um desfiladeiro, mas nada de mais. Não é necessário proteção com corda para se caminhar no platô. Depois de caminhar basta subir no "mezanino de pedra", local da cozinha+quarto oficial do bivaque (foto 10).

A partir da cozinha (foto 9) inicia a primeira enfiada de 8º grau da via, e era a vez do Fred guiar. Era mexatamente 9:10 quando ele iniciou a enfiada, a qual foi muito responsa: Logo o primeiro movimento já é duro, e os primeiros 10 metros são bem complicados.. com alguns regletes pequenos e movimentação complicada em diedro.. depois dá uma certa melhorada, mas logo de repente as placas de quartzito mudam de laranja pra rosa, e os crux recomeçam.. um deles exigindo um pé alto e uma colocada pra jogo. O Fred fez esse lance utilizando um belo calcanhar de boulderista de Ouro Preto.. eu olhei pra Mythos no meu pé e torci pra haver uma alternativa sem calcanhar.

Foto 10: árvore que marca o lugar de subir pro mezanino da cozinha principal + local de dormir do bivaque.


escalada na via torres del pânico no tabuleiro minas gerais
Foto 11: Visão em primeira pessoa do meu grigri na segue do Fred na primeira enfiada de 8º grau da Via "Torres del Pânico". A corda verde era a corda guiada pelas proteções, enquanto a azul era nossa corda retinida. Este 8º era longo, vertical.. lindo de mais.. a vontade que dar é de passar uns dias no platô escalando até fazer com perfeição.
O Fred e eu fizemos um esquema bom de escalada: levamos equipamentos, comida e roupa de frio somente para um dia. Não poderíamos passar uma noite na parede, acredito que as blusas de frio que levamos não seriam suficientes para uma pernoite gelada sob vento. Não levamos nut's nem jumar, isto implicava em termos que escalar no mínimo entre cada uma das proteções. O T-block seria nosso recurso em casos isolados onde não conseguíssemos vencer algum lance e precisássemos de uma ou outra blocada pela corda. O T-block de toda forma só vale a pena ser usado se de fato não há outra opção, pois blocar e subir por ele na corda em muitos casos é mais extenuante do que escalar. 

Caso desistíssemos de chegar ao cume, ou algo de certa forma desse errado, poderíamos rapelar em qualquer ponto da via; a "Torres del Pânico" é até mesmo considerada o "rapel oficial do cume", sendo a linha mais vertical e com menos diagonais ao longo das enfiadas.

Escalávamos com duas corda de ~70mts: a corda principal de escalada, conectada nos dois escaladores e utilizada nas proteções, além de uma 2ª corda, sempre retinida entre o guia e a última parada - esta última seria utilizada no caso de rapelarmos ou do cume, ou do meio da via em caso de desistência - é possível optar por uma única corda, mas isto implica na obrigação de sair pelo cume. Ao final de cada etapa, após armar a parada e se solteiras, o escalador guia utilizava a corda retinida para içar as mochilas através da roldana "micro traxion" (esse beta do Fred foi bom de mais, pois a roldana só libera o giro da corda pra um dos lados o que torna fácil a transferência do equipo entre uma parada e outra). Nós dois estávamos escalando sem mochila, e isso era bom de mais pro desenvolvimento nos lances.


escalada na via torres del pânico no tabuleiro minas gerais
Foto 12: Vista da cachoeira na cozinha do platô do tabuleiro. Momento durante a segue do Fred na primeira enfiada de oitavo grau da via "Torres del Pânico"

Eu fui segundo nesta nossa terceira enfiada, e já fui logo tomando umas quedas nos regletes dos primeiros 10 metros. As duas quedas representaram logo um "fica esperto mermão" na minha moral. Respirei pouco entre cada queda voltando rapidamente pra escalar novamente. Isso denunciava minha ansiedade. A ansiedade e o medo eram meu principal foco no processo.. todo o comportamento é fortemente dependente da forma como lidamos com a ansiedade e o medo. O mais importante durante as horas de escalada era conseguir controlá-los, pois, toda a parte física já havia sido preparada nos anos de treino, escalada e no planejamento dos dias anteriores. Durante as horas escalada temos é claro que  nos atentar em economizar energia física o máximo possível, mas o controle das emoções é sem dúvida a peça chave de todo processo.

Cheguei na parada junto ao Fred, executei nosso processo: solteirar, beber água, se posicionar pra saída da próxima enfiada, pegar costuras, organizar a saída da corda, pegar a roldana e deixar o T-block pro participante. As mochilas seriam novamente içadas por mim quando eu terminasse a enfiada, utilizando a retinida+roldana.

Nossa 4ª enfiada era o segundo oitavo grau do percurso. Eu fui guiando e já tomei logo um bom espanco nos primeiros moves... lances de oposição com batentes rasos.. movimentação complicada e perto ainda da parada. Minha vontade de vacar era zero.. ali naquele momento a brecha para a dúvida ganhou espaço.. dúvida se conseguiríamos ou não concluir todas as enfiadas.. comecei a imaginar alguma sequência de lances que não conseguiríamos passar.. e naquele momento achávamos que tínhamos esquecido os clifs pra trás, pois o Fred havia requisitado ainda no primeiro 8º e eu não tinha achado eles dentro da mochila de jeito nenhum.

A sensação da dúvida é péssima pro desempenho, no entanto, havia muito dia pela frente e a energia física ainda estava em alta, não era hora de forma alguma em pensar de forma negativa. Aos poucos minha movimentação foi fluindo um pouco melhor, os crux dessa enfiada se concentravam mais no início, daí minha evolução foi melhorando junto com o alivio gradativo do fim desta parte. O fifi hook foi um item que ajudou muito na progressão ao longo da via. Durante a guiada, nós o utilizávamos para nos travar nas costuras ou até mesmo nas chapas se necessário. Isso evita depender do seg pra travar a corda com o freio e também na hora de retornar a escalar, em casos onde a comunicação é ruim, isso é ainda mais vantajoso.

escalada na via torres del pânico no tabuleiro minas gerais
Foto 13: Eu guiando o 2º oitavo da via "Torres del Pânico". Na foto aí da pra ver bem o querido "fifi hook" me travando no mosquetão de baixo da costura. Descansar dessa forma no meio da enfiada é bem mais ágil e confortável pros 2 escaladores.


Foto 14: Fred analisando os lances do final do segundo oitavo grau da via Torres del Pânico. Após esta parada, restam ainda 1 8B/C, um 7C e um 8C.



escalada na via torres del pânico no tabuleiro minas gerais
Foto 15: Detalhe da Parada no final do segundo oitavo grau da via Torres del Pânico. A parada é logo abaixo dum teto e a próxima guiada si pela lateral esquerda. A primeira proteção é aquele pequeno chifrinho lá na extrema esquerda abaixo do teto, bem numa quina pequena. Bem adrenante passar esta primeira. O Fred que guiou esta e passou veneno.

Era cerca de 12:30hrs quando cheguei nesta parada. A próxima enfiada, nossa 5ª, era mais um 8º grau duro. Após essa saída adrenante por baixo do teto, a via vira numa placa lateral bem vertical e plana, a escalada é em batentes e pequenas fendas verticais. Batentes que você nunca sabia se seriam bons agarrões ou abaolados vacantes. Num momento desta enfiada o Fred decidiu buscar umas opções de friends através da corda retinida, pois ele não conseguia ver a próxima chapa e lançou mão de um friend nº3 ou nº2 numa fenda para garantir a proteção. O final desta enfiada é bem capcioso, você tem que subir num conjunto de torres, é como abraçar uma geladeira, e no fim dar o tapa na borda do final: Hard e linda esta parte. 

escalada na via torres del pânico no tabuleiro minas gerais
Foto 16: Fred e eu na parada em cima das das torres. Rindo de adrena da situação kkkkk

Foto 17: ângulo oposto do mesmo momento da foto 16

Cheguei na parada desta nossa 5ª engiada numa alegria incrível. Minha motivação ganhou um ânimo total pensando que faltavam apenas 2 enfiadas: um 7C e um 8C. Não era pouca coisa, mas a árvore que marca o cume da via já era plenamente visível. Esta árvore é um ponto marcante da linha, pois praticamente em toda escalada após o platô você consegue enxergá-la, isso motiva.

Me lancei logo na guiada do 7C. Toda esta seção da via: desde da última metade da nossa 5ª enfiada e por todo o 7C da 6ª enfiada; o nome Torres del Pânico faz muito sentido, pois, a linha da via segue por uma faixa amarela do quartizito, mas toda a parte esquerda é feita por torres de camadas grossas de pedra descoladas do maciço principal, abrindo fendas por fendas e formando torres. São as casas dos diversos morcegos que vivem por lá, os quais gritam conosco o tempo todo durante a escalada. Alguns lances te faz usar alguns blocos nessas torres, mas não é muito necessário ir pela esquerda mais podre. Principalmente no crux desta enfiada, onde dá uma vontade grande de tentar utilizar grandes bicos que saem da lateral esquerda, mas a sensação de sair da linha da via é muito clara. Esse lance acaba atraindo algumas pessoas pra essas agarras meio podres na esquerda, mas fazendo reto, usando os regletes do meio da placa amarela e uma pequena fenda pouco longe e alta para a mão direita  faz você vencer bem o lance sem ter que se arriscar na lateral duvidosa.

No meio da enfiada o Fred me gritou e falou pra eu olhar pra cima e ver as águias. Eu já havia ouvido falar das águias no Tabuleiro, mas não tinha noção do tamanho daquelas aves. Uma delas estava pousada na árvore que marcava o fim da via (dá pra ver ela na foto 17 abaixo), e havia uma outra voando. Não era nem bem voando, pois ela sequer batia as asas.. ficavam o tempo todo com elas abertas.. surfando através das rajadas de vento. Como disse o Fred, aquilo lá era o sinal. Fomos abençoados ali.

escalada na via torres del pânico no tabuleiro minas gerais
Foto 17: Foto linda, que mostra o final do 7C da penultima enfiada junto com o 8C duro da última parte. Lá no fim da rocha está a árvore que marca o fim da via. No detalhe com zoom dá pra ver a águia chilena pousada.

Terminei o 7C e mal conseguia acreditar que faltava uma pro final! eram exatamente 1:25hrs da tarde, eu havia mandado dois audios de watzap pra Tamires, minha esposa, um logo antes da 5ª enfiada e um logo após guiar o 7C. É muito engraçado ver a mudança do meu estado de espírito após esse intervalo de tempo de cerca de 1h. No primeiro momento eu tinha um tom de voz muito sério e preocupado, já no segundo eu não consigo esconder minha empolgação de estar tão próximo do fim.

escalada na via torres del pânico no tabuleiro minas gerais
Foto 18: Fred escalando o 7C da 6ª e penúltima enfiada.

Ainda faltava a última parte da via, a princípio, a mais difícil, o 8C. A enfiada começa relativamente bem, numas agarras boas da placa vertical indo bem pra aresta. Após cerca de 3 costuras, é necessário virar para a direita e escalar na outra face da aresta. A transição é delicada e as proteções ficam sempre na face esquerda anterior, sendo assim, é preciso voltar para a placa anterior logo após escalar uns poucos metros. A enfiada segue pelo quartzito rosa enfrentando 2 crux seguidos de regletes batentes verticais, o primeiro mais difícil que o segundo. Vencido esses dois lances, tem um outro momento difícil, o qual gera dúvida entre ir pela esquerda ou tentar alcançar uma agarra invertida grande mais a direita em cima. O correto é ir reto/esquerda, blocando nos cristais grandes do meio da placa e ir alto numas agarras médias de mão esquerda.. eu fui pela direita e não consegui atravessar pra esquerda depois, peguei num cristal zela e ele quebrou na minha mão.. acabou sendo uma vaca de boa na parede vertical. O Fred guiou muito bem essa última enfiada, os cruxes foram passados com bastante cautela e atenção. Foi uma etapa bastante trabalhosa da via. Gastamos de 1,5hrs para vencer essa ultima etapa. Às 15:30 estávamos no cume.

escalada na via torres del pânico no tabuleiro minas gerais
Foto 19: Fred e eu no cume após escalar a via "Torres del Pânico"


Hora de agradecer muito e sentir aquela leveza surreal, deixar relaxar os instintos e sentidos que estavam em plena atenção durante toda a extensão da via. A primeira vez que eu vi o tabuleiro na minha vida foi por volta de 2005, naquela época eu sequer imaginava se era possível pessoas escalarem aquela imensidão de pedra. Em outros momentos da vida, após meu inicio na escalada,  cruzei os olhos algumas vezes com o Tabuleiro.. é uma parede mística do montanhismo mineiro, e só de imaginar escalar aquela imensidão era algo que fazia o coração saltar pela boca. Sempre me lembro dos casos quase inacreditáveis das aventuras do Gustavo Viana, Mr. Bean, do Marcos Rufino, do próprio Fred e tantos outros que eu já tive a oportunidade de conversar e vislumbrar toda a vivência daquela experiência.

Ali naquele momento no cume esses pensamentos passavam pela minha cabeça junto com aquela vista linda de inverno, o céu muito límpido, a vegetação seca mas com várias espécies de plantas de diferentes cores e formas. Fiquei embasbacado por cerca duns 20 minutos, inundado de endorfina e sem conseguir digerir ainda tudo que havia sido vivido nas últimas horas. Quando nos recompomos foi hora de nos colocar em movimento novamente, em direção ao poço onde a cachoeira deságua no vazio.


Foto 20: Poço do cume do tabuleiro. Onde o curso d'água encontra o vazio da queda.

Retorno à Sede do Parque


A partir do cume, são 3 opções para voltar à sede do parque:

  1. Rapelando pela própria via Torres del Pânico e depois subindo a trilha oficial do parque novamente.
  2. Voltar apé, dando a volta pela direita de quem acabou de ficar em pé no cume e está de costas pro parque. Este é caminho apé oficial. É o mesmo utilizado pela galera que faz a travessia a pé "Lapinha -> Tabuleiro". Segundo informações, dura cerca de 3 horas essa caminhada do poço até a sede
  3. Voltar apé dando a volta pela esquerda, indo em direção ao vilarejo do Salto mas continuando sempre bem a esquerda, descendo novamente para o curso da cachoeira e pegando a trilha oficial do parque novamente e subindo para a sede Este é um caminho alternativo pouco utilizado.
Eu demonstrei logo que não queria descer rapelando de jeito nenhum. Minha cota de ficar de cadeirinha pendurado já tinha sido plenamente atendida. O Fred deu a ideia então do caminho menos convencional.. e assim fomos.

escalada na via torres del pânico no tabuleiro minas gerais
Foto 22: Inicio da trilha de descida. Momento muito marcante da aventura.
Optamos por virar a esquerda e tentar pegar a trilha utilizada pelo pessoal da vila do Salto que dá acesso ao leito do rio

A trilha começou até bem marcada, mas logo nos vimos caminhando entre canelas de emas, cactos e arbustos... sorte que a vegetação de inverno permitia uma caminhada relativamente tranquila. Logo bateu uma sensação de dúvida mas continuamos tocando rumo a uma elevação que nos permitiria ver melhor no rumo. Ao chegar na elevação, conseguimos enxergar bem abaixo a trilha que nos levaria para o leito do rio, o qual era nosso objetivo antes da sede do parque. 
escalada na via torres del pânico no tabuleiro minas gerais
Foto 23: nossa vista do ponto alto que procuramos para tentar achar a trilha exata que precisávamos. Dava pra ver a trilha lá embaixo, mas antes, precisaríamos descer a ribanceira logo aqui na frente.

Foto 24: Vista da ribanceira que descemos escalaminhando. Do poço do cume até a sede do parque, gastamos menos de 2 horas andando. Não foi tão demorada quanto a outra trilha, mas é uma caminhada bem difícil.

O problema era que para alcançar esta trilha, teríamos que vencer uma "desescalaminhada" trabalhosa por um mar de blocos grandes, guiados por pequenos totens bem precários, feito pelas poucas pessoas que passam ali de vez enquanto. Pirambeira de pedra, quase uma falésia, na foto anterior da pra ver bem o percurso de desescalaminhada que fizemos. Fazer esse caminho no escuro guiado por totens, ou com mochila pesada teria sido muito difícil. Como estávamos leves e o dia anda estava bem claro, desenvolvemos bem ladeira abaixo, e logo nos vimos na trilha do leito do rio. Ali sim baixou aquele espirito de obrigado universo, tudo deu certo.

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Figura 25: Chegada no leito do rio. Tudo certo.. sãos e salvos.. alegria alegria.. obrigado Tabuleiro



Valeu Fred

Subimos eufóricos pela trilha oficial do parque, chegamos na sede as 18:30. Hoje essa trilha de subida é toda feita por bons degraus de madeira ou de concreto. Foi ótimos subir todo aquele caminho íngreme novamente.. cheio de dor no corpo, cansaço e aquele sorriso bobo no rosto. Pra completar tudo, era o dia dum eclipse único.. era 27 de julho de 2018, a terra estava entre o sol e a lua, todos os planetas alinhados para uma grande aventura. Que dia. 

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Via "Clandestino" - Serra da Cambota MG

Via Clandestino - 180mts - 6º VIIa E3 D1

Local: Serra da Cambota - Barão de Cocais MG


No último dia 28/01 tive o prazer de reviver boas aventuras no clássico Cambotas. Me juntei ao Fred Moreira e fomos num bate volta tentar o cume pela rota mais repetida do local: Via Clandestino.

Desde minhas primeiras idas ao Cambotas, sempre houve essa ideia em mente: experimentar essa via linda que corta o maciço bem pelo meio, remando mundo a fora naquele mar de quartzito laranja. Quem não qué, José??

escalada minas gerais brazil climbing cambotas via clandestino
Via Clandestino - Cambotas MG

Relato da escalada:

Domingão acordei as 5, encontrei com o Morão no BH shopping as 6 e rachamos fora.. indo por Sabará, Caeté.. estrada de terra e.. Cambotas! Fomos muito bem recebidos pelo pessoal do Canela de Ema e começamos logo a trilha. (obs.: quem quer escalar no cambotas e não conhece o local, veja o post com todos os betas de lá: http://pedrasgerais.blogspot.com.br/2015/06/via-quadrado-magico-serra-do-cambotas-mg.html)

A trilha estava muito boa, aberta e com a vegetação intensa devido ao período chuvoso. O tempo nublado estava cooperando bastante e ir só com o equipamento de ataque ao cume ajudou a caminhada ser bem rápida. Menos de 40 min estávamos na base da via, 9:15h começamos a escalada.

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Fred e eu na trilha. 40 min até a base

A via são 5 ou 6 enfiadas, a última dependendo do ânimo pode ser emendada com a 5ª. São necessárias 13 costuras longas (beta importante: leve pelo menos duas de 1 metro, umas 3 menores pode até ser, e o resto de 40cm pra mais. Escalar a via só com costuras curtas seria bem ruim). Uns 2 ou 3 friends médios é bem recomendado pra 5ª e 6ª enfiada.
Seria possível escalar somente com uma corda de 60, porém, o rapel pela via de descida (ecdemomania) necessita duas cordas de 60mts. Então... leve-as... rapelar pela Clandestino é fácil somente até a segunda enfiada. De lá pra cima a via faz uma diagonal na 3ª e depois um negativo na 4ª.. ou seja, rapel ali é roubada.

Fora isso é uma mythos no pé, capacete, água, paçoquinha e uma proteção pro sol.. Pois uma regra no Cambotas não falha: o sol depois do meio dia arregaça o peão.

Encontrar a base da via é fácil. A partir do setor principal da entrada, caminhe 100 metros em direção ao setor felinas e a base já é lá. Olhando pra cima estará o inicio do risco do "A" do Arco da Santa Vitamina. A cor da parede no local é bem cinza, e não laranja.

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Primeira enfiada da via Clandestino - Cambotas MG

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Primeira parada da via Clandestino. O Fred está lá no fundo da foto pois errou a primeira parada.. acabou indo muito pra direita.

A primeira enfiada é um 6 grau. Vertical, alguns lances em agarras menores mas nada muito exigente. Bem bacana. A parada é num platô enorme inconfundível; ela estará mais a esquerda.
A segunda enfiada é a melhor da via! Um 6º grau num vertical laranjadão, bem protegido. Esta enfiada tende um pouco pra direita e termina bem na quina do "A" do arco.

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Fred vindo pela segunda enfiada da via

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Fred se juntando a mim na 2ª parada da via Clandestino.
Dali segue a 3ª parte da via. Aquilo lá já não é uma escalada que se acha facilmente por aí. A via segue na diagonal à esquerda, subindo na laje do teto acima da parada e seguindo um tubo de pedra de cerca de 1 metro de largura por 60 cm de profundidade. Ele não é grande o suficiente pra te caber dentro dele bem posicionado. Daí você fica meio fora e meio dentro, indo numa movimentação lateral utilizando a borda de baixo e desviando a cabeça da borda de cima. É bem diferente. Bem interessante. Essa enfiada desde os primeiros lances já requer uma tranquilidade mental bem maior.

O fim desta etapa é num platô enorme. Bom pra comer, beber água e recuperar o fôlego se necessário. Dali começa a enfiada com o crux de resista de força. O início é uma travessia lateral longa (+-12m), até virar atrás da aresta à esquerda. Antes de virar a aresta dá pra costurar duas chapas, e na outra face a via segue verticalmente, aí que dá a merda se você não tiver colocado uma fita gigante na primeira chapa e não tiver mais uma pra colocar na 3ª proteção. Coloquei uma fita de 40cm na 3ª e uma de 1,2m na 1ª... deu arraste pra cacete por causa da fita curta na 3ª... foi muito agachamento pra terminar o mar de agarrão no levemente negativo. O crux é uma seção bem definida no primeiro negativo. As agarras são boas, a questão é realmente manter a calma e ir movimentando bem ao longo dos agarrões.. vários parecem que vão arrancar na mão. Vá com calma.

escalada minas gerais brazil climbing cambotas via clandestino
Eu na 4ª parada enquanto o Fred ia trabalhando o crux.

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Eu na 4ª parada com a cara toda suja de terra.. o arraste da corda me atrapalhou muito nesta guiada.

Dali pra frente, a 5ª e 6ª parte já são um estilo aproximação final com mato e alguns lances de escalada que é recomendável proteger com friends.

O cume estava bonito pra caramba..vista da Serra da Piedade e da serra do Caraça. Era a última folha do livro de cume... foi legal ver assinaturas antigas. O Fred tinha várias. Eu encontrei a minha de 2015 com meus parceiros Tigrão e Pastor, pela Aresta. Êta vida boa!

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Cume do Cambotas! Rurul!

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Assinando o livro de cume. Última página! Sorte.

De lá seguimos pro ponto de rapel. Pra achar o ponto de descida, faça o seguinte: ficando em pé no cume, olhando de frente pra sede do cambotas, siga pra sua diagonal direita pra frente (nordeste). Cerca de 200 metros abaixo, a parada estará lá, marcada com fita reflexiva e tudo mais, duas chapas com argolas.

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Descendo pro ponto de rapel.

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Ponto de rapel do cume principal do Cambotas


Um rapel de 30 metros te leva na base de uma grande fenda. A partir de lá, 2 rapéis de 60 metros te levarão até a base.

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Descendooo




Valeu Fred, valeu Cambotas. 

domingo, 22 de novembro de 2015

Pico do Baiano - Catas Altas MG

Pico do Baiano - Catas Altas MG

Relato sobre a escalada da Via Obra do Acaso 

4 de outubro de 2015

via obra do acaso


1 - Apresentação do local

O Pico do Baiano é um maciço de quartzito localizado no distrito dee Morro da Água Quente, pertencente a Catas Altas, próximo a Barão de Cocais.

O pico é um ícone classico do montanhismo mineiro, com investidas iniciadas em 1991. Possui 2016 metros de altitude com vias que chegam a 1000 metros. Para mais informações sobre a história do Pico do Baiano acesse:  http://www.montanha.bio.br/web_cem/apresenta_baiano.htm 

Foto com as principais linhas e trilhas de acesso ao Pico do Baiano. Crédito da foto:bemmaisvertical

2 - Início

Minha história com o Baiano começou em 2011. Eu escalava a menos de um ano  quando o Pablo Gonçalves me lançou o convite pra ir junto ao Cristiano e ele numa empreitada pela via Obra do Acaso.

Eu não tinha a menor ideia do que era o Pico do Baiano, mas, como o Pablo era quem estava me introduzindo ao mundo da escalada na rocha, e conhecia meu nível de experiencia, eu topei na hora.

Nenhum de nós três havia ido antes até o Baiano. O Pablo pegou informações sobre a trilha e a escalada com o tigrão. Pegamos um mapa da trilha além alguns croquis da via e fomos nós três, naquele esquema de ir direto do serviço numa sexta feira qualquer: enfrentar o transito e a viagem, encarar a trilha, bivacar na base, acordar cedo, escalar, rapelar, dormir, descer e vazar. O plano era este.


Iniciando a trilha . Por volta já de 1hora da 
manhã de um sábado.

Partes planas e tranquilas do inicio da trilha. 
A qual de repente se torna  extremamente
ingrime em vários pontos. E o bom é que 
as mochilas são pequenas e leves.
Ouvimos inúmeras vezes que a trilha era osso. E isso provou ser verdade logo na primeira meia hora de tilha. Chegamos até o ponto de estacionar o carro por volta de meia noite e meia. Começamos a trilha uma hora da manhã e rapidamente já nos encontrávamos perdidos no mato. Assim que acabaram os pontos de referência iniciais já nos perdemos. Reencontramos a trilha e continuamos nesse ciclo de nos perder e nos reencontrar por um bom tempo. Enfim chegamos já exaustos a um ponto de referencia marcante da trilha do Baiano: a barragem do riacho que nasce na montanha. Normalmente gasta-se cerca de uma hora e pouco pra chegar nesta barragem. Nós gastamos cerca de 3 horas. A partir deste ponto, o mapa de nossa trilha indicava "pirambeiras". Rapaiz, e que pirambeiras. Hoje por exemplo há cordas fixas nestes pontos que auxiliam muito a subida dessas partes muito íngremes de terra, quase verticais. Subi-las com a mochila pesada e volumosa parecia esses treinamentos do exercito. Era preciso realmente se arrastar certas vezes pra liberar os cipós emaranhados nas mochilas.

A partir deste ponto continuamos a nos perder em algumas ocasiões e já estávamos exaustos. Já estava próximo da hora de amanhecer e nem sinal da base da via. O mais frustrante era pensar que iríamos passar por todo aquele trampo e nem sequer iríamos ver a via. Pensar nisto era extremamente desanimador.

Chegando a um outro ponto de referencia, "a pequena caverna de pedra", desenhada no mapa da trilha, resolvemos deitar cerca de uma hora pra recuperar um pouco de energia e continuar tentando achar até a base da via.


Imagem do Pablo Gonçalves quando decidimos parar um pouco para descansar. Exaustos. Durante minhas outras investidas no Baiano descobri que este ponto é o utilizado para se dormir realmente, antes do dia da investida ao cume. Costuma-se gastar cerca de 3 horas até aí quando não se erra. Tínhamos gasto umas 5,5horas
Seguimos ainda por algumas horas extenuantes até finalmente encontrar a base da via Pedrita Meu Amor. Lá topamos com um outro grupo de escaladores que havia nos ultrapassado na trilha durante a noite e nem sequer os vimos. Eles nos disseram que a base da Obra do Acaso ainda era cerca de uns 40 minutos seguindo a trilha. Naquele momento já amanhecia. Seguimos por um tempo e enfim, lá pelas 7 e poco da manhã encontramos o primeiro grampo da obra do acaso. Eu já estava mais morto do que vivo após mais de 6 horas de caminhada difícil noite adentro e sem dormir nada. Era impossível começar a escalar naquele momento, e sabíamos que começando mais tarde, dificilmente atingiríamos o cume a tempo. Mas bem, havíamos pelo menos vencido a trilha do Baiano e iríamos escalar pelo menos um pouco, aquilo já era uma grande vitória. Resolvemos tentar descansar um pouco antes de entrar na via. 

Esta foto apresenta toda a floresta que foi percorrida durante uma exaustiva investida de caminhada madrugada a dentro. Neste ponto já estávamos proximos ao inicio da via, e, o dia já clareava. 
Comemos e tiramos um cochilo até as 9:30 da manhã. O Pablo começou então a guiar a primeira enfiada. O combinado é que ele guiaria todas e o Cristiano e eu iríamos como participantes conhecendo a via. Chegamos no platô da quinta enfiado por volta das 15:30. Parecíamos mais uns zumbis, meus pés latejavam de dor dentro da sapatilha. Nos demos por vencidos. Curtimos o visual, rimos bastante da nossa situação deplorável, e iniciamos a descida.

Foto nossa ainda conseguindo sorrir! Foi muito bom ter tido a oportunidade de conhecer o estilo de escalada no Baiano. Eu nem sequer tinha um capacete de escalada na época, estava escalando com um capacete de skate emprestado. 
Chegando na base comemos e apagamos. Acordamos por volta das 3 da madrugada, e, ansiosos por ir embora iniciamos logo a trilha de volta. Para descer as pirambeiras eu nem tinha forças pra segurar as pernas, eu sentava e me deixava escorregar e capotar até o fim das pirambeiras. Eu capotaria de todo jeito tentando descer mesmo.. No vim da trilha acabou que minha calça nao tinha mais a parte de trás. Estava presa pela cintura e rasgada até os joelhos.

Foto de nosso retorno do espanco total. 3 bagaços
Esta primeira ida no Baiano tinha sido a maior aventura da minha vida com certeza! Foi totalmente escruciante. Ficamos totalmente acabados. Lembro ainda com detalhes das sensações fortes de todos aqueles perrengues. Até hoje quando me encontro com o Cristiano e o Pablo a gente acaba lembrando desse episódio cômico, trágico e tão enriquecedor para nós. Uma coisa ficou certa pra mim, eu iria voltar lá com mais experiência depois pra dar o troco no Baiano.

E assim eu o fiz em julho de 2015... Fui com um time de 3 outros experientes escaladores. Estávamos fortemente armados e motivados, porém, choveu durante todo o fim de semana e ficamos igual pinto molhado escondido dois dias de baixo de um bloquinho de pedra aguardando a chuva passar... e não passou.


Bortolous, Tigrão e eu (guido tirando a foto). Com a cara de emburrados, no pé da rocha durante um breve momento de estiagem da chuva. Pdera encharcada.

3 - Preparação para a 3a investida ao Baiano

Logo em outubro de 2015, 3 meses após minha segunda investida no baiano, começou a dar aquela vontade de novo de fazer uma montanha. Dei logo ideia no meu parceiro tigrão para ver se ele teria interesse, ele é claro topou na hora. Chamei também a Tatá - não sabia se ela teria interesse em algo do tipo. Ela havia apenas a experiência do pão de açucar, o qual fizemos juntos. Mas, como ela ama um desafio, nem pensou duas vezes também e animou na hora.

A princípio nem iríamos para o Baiano, mas daí os planos mudaram pela força do destino e de repente estávamos lá: Tigrão, Carol e Minion / Tata e eu, iniciando a famosa trilha do Baiano numa noite de sexta feira, dia 2 de outubro de 2015. 

Rompemos bem pelo caminho. Hoje há cordas fixas nas partes mais íngremes da trilha, as quais ajudam bastante. Mesmo assim é uma trilha nível Very Fucking Hard. Fizemos a trilha num tempo muito bom, 2 hora e meia. Comemos um pouco e lá pelas 1:30 da manhã já estávamos dormindo.

No dia seguinte faríamos todos a via obra do acaso, subindo em duas cordadas independentes.



4 - A Escalada

Sol nascendo no ponto de bivaque.

No sábado já comecei a acordar lá pelas 5hrs. Dei uma enrolada até o relógio despertar as 5:30h e já pulei do saco de dormir chamando por todo mundo: Bora escalar galera!

Tomamos um bom café da manhã, organizamos as mochilas de ataque com os equipos: headlamp, água, lanches, corta vento e toda aquela tralha da escalada. Lá pelas 6:30h seguimos em direção a base da via. 
Tamires Vargas seguindo pela trilha, já próxima a base da via Obra do Acaso. Toda essa floresta que se vê atrás dela, até o vilarejo ao fundo, é percorrida a noite. São cerca de 2,5 a 3 horas num ritmo bom, quando não se erra o caminho Dormimos num ponto cerca de 40min de caminhada até esse ponto.
Depois de cerca de uma hora de caminhada bastante íngreme chegamos à base. Nos organizamos e lá pelas 8:00-8:30h o Tigrão iniciou a primeira enfiada. Como participantes na cordada dele estavam a Carol e o Miniohm. A Tamires e eu compúnhamos uma cordada independente logo atrás, fomos revesando a ponta da corda a cada parada.

Vista da base da via Obra do Acaso. Um mundo velho de Quartzito pra escalar até perder de vista. O último ponto que pode ser visto por essa foto não é sequer o cume, se não me engano é a 9 enfiada, conhecida como a enfiada do "Muro".
Após o primeiro grupo chegar na parada eu iniciei guiando os primeiros 55mts. Uma enfiada com um crux bem protegido logo após a segunda chapa, a parede fica bem vertical e o posicionamento não é nem um pouco óbivio, com agarras de mao bem pequenas, menos de uma falange. Bem interessante esse primeiro crux. Depois vem um esticão, nada difícil se comparado ao que a via aguardava mais a frente.

Os próximos 55mts foram guiados pela Tata. Esta era uma enfiada bastante exposta; com apenas 2 grampos, mas também apresentava um nível inferior de exigência técnica, se comparado ao restante da via.

Tamires Vargas guiando a 2a enfiada da via Obra do Acaso. Apenas uma costura ali perdida no meio da corda.. A grande parte da escalada é realmente com a inclinação positiva, mas em muitos momentos as agarras de pé e de mão desaparecem.. e a costura está laaa em baixo.
Na terceira enfiada já era o lance do crux de 7c, o qual é possível fazer em artificial A0/1, utilizando o furo de cliff entre a primeira e a segunda chapa (tem um video bom no youtube pra quem quiser visualizar onde é exatamente o furo de cliff https://www.youtube.com/watch?v=QwRzrN1vMTU ). Na sequencia desse crux já há uma passagem bem técnica e complicada. Lembro de terminar de fazer esse lance, ficando a uns 3-4mts da chapa e pensar assim (ufa, passei desse.. agora é só costurar e ficar de boa, levei a mão no rack pra pegar uma costura, e quando dei por mim, eu ainda estava a uns 3-4mts do proximo grampo. Aos poucos o Baiano ia sempre te surpreendendo, com lances tecnicos bem diferentes um do outro e uma sensação de exposição que te obriga a manter a calma de um jeito ou de outro.

A quarta enfiada seguiu o ritmo. Um longuíssimo esticão, o qual permite diferentes opções de caminho pela rocha. Pés delicados e poucas agarras de mão.

Gilberto Silva vindo pela 4a enfiada da via Obra do Acaso

A quinta enfiada, guiada por mim, era a que me dava mais preocupação. Eu me lembrava da falta de agarras total do lance antes de chegar na parada. Eu havia passado por aquele lance cerca de 4 anos antes e ainda assim essa memória era bem vívida. Além disto, o Tigrão já havia caido neste lance, o que abalava bem meu psicológico. 
Os lances ao longo desta 5a enfiada são bem interessantes há um crux de 5º/6º numa laca, o qual eu preferi ir direto do grampo para as agarras boas da laca, enquanto o pessoal optou por ir pela direta liseba e depois fazer um travessia desajeitada. Para chegar no top é realmente exposto pra caramba! O ideal é seguir a linha mais natural da rocha a qual faz uma curva mais a esquerda, apesar da vontade de ir diretamente para os grampos da parada. O lance realmente é mais fácil fazendo uma travessia para a esquerda dos grampos e depois subindo até eles numa diagonal para a direita. Nesse ponto o pessoal da cordada acima me ajudou bastante, eu já estava há uns 3 metros deles, então pedi pra lançarem um pedaço de corda fixa.
Nesta parada há um plato confortável. Uma boa opção para comer alguma coisa e até relaxar um pouco. Demos uma parada duma meia hora no mínimo. E tomamos mais sol na mulera sem dó.

A face do baiano é virada praticamente para o leste. O sol incide desde o momento que nasce até aproximadamente 14-15hrs da tarde. (varia é claro de época pra época. Estávamos em outrubro).

O sol se mostrava relativamente amigo. O calor era muito, porém, podia ser muito pior. Em poucos momentos tivemos incidência totalmente direta do sol. Na maior parte do tempo havia uma camada bem rala de nuvens, e, de vez em quando, até uma nuvem mais espessa proporcionava uma sombra de verdade. A desidratação era meu maior medo desde o início. Se não fosse essas nuvens amigas certamente teríamos que abortar a missão.

Ao longo destas primeiras enfiadas fomos entendendo bem o estilo de escalada no Baiano. O enorme maciço de quartzito se mostrava quase sempre levemente positivo, as vezes mais.. outras vezes bem menos. O padrão de agarras se mostra constante: pés muito delicados e pequenos regletes de mão. A escalada se concentra num bom trabalho de pés e na manutenção da calma. Toda enfiada, até a 8 ou 10 guarda sempre no mínimo alguns metros mais desafiadores.. certas vezes em esticões longos. Mas se está na montanha, é pra ter emoção!

Seguimos então pela 6a enfiada. A Tata e eu invertemos a ordem e eu voltei do descanso guiando novamente. Esta é uma enfiada muito delicada, logo a saída já é dificil e entre a 4 e a 5 proteção há um crux de 6o grau, o qual pode ser transposto utilizando um furo de cliff proximo a 4 chapa. O tigrão já havia deixado o estribo na 5 chapa então eu não tive o trabalho de procurar pelo furo (e olha que eu procurei por curiosidade e não achei, ainda bem que o estribo já estava lá! Mais uma bela ajuda da cordada guiada pelo Tigrão).

Cordada composta pela Carol Minion e Tigrão. Seguindo pela 6a enfiada

A 7a e 8 enfiada seguem o rítimo dos esticões incríveis onde a cada subida de pé é uma vitória. Em vários momentos você se encontra num dilema tremendo: Será que esse pé minusculo aqui não vai escapar? Será que eu confio nessa ruguinha áspera aqui da rocha, mesmo a última chapa estando 4-5 metros abaixo? Vou o não vou.. voo ou não voo... E aí as horas vão passando... somando a isto os trâmites burocráticos dos procedimentos normais de escalada em grandes paredes e do volume grande de pessoas no nosso grupo chegamos ao final da 8a enfiada por volta das 16hrs. Ainda faltavam 5. Isso mesmo, 5. E a ideia de desistir nem sequer existia em nossas cabeças, hora nenhuma chegou sequer a ser cogitada. E então bora pra cima que a investida estava incrível! muitas emoções e aprendizados. E a sensação do cume do Baiano estar chegando para mim era totalmente nova, e parecia difícil de acreditar. Em fim o Baiano iria se render a minha insistência.. mas eu não queria contar vitória antes da hora.


Tamires, na parada apos a 6a enfiada

Minion guiando a 7a enfiada! Vários lances bem técnicos e expostos nesta parte.
A Tata guiou essa enfiada na sequencia. Mandou bem pra caramba!

Tata e eu, na parada da 8a enfiada

A Tamires guiou a 9a enfiada. A partir desta, a característica da escalada muda bastante. Esta parte da via é bem particular. Uma fenda de agarrões, mas não só agarrões é claro. Totalmente diferente do restante da via.

Eu, na parada apos a  9a enfiada

A 10a enfiada é muito exposta. 2 grampos apenas. Utilizar friends ajuda muito, principalmente para quem está indo pela primeira vez, como foi o meu caso. Os lances não são difíceis, mas a visualização não é obvia e são fendas onde deve-se usar lances de oposição em agarras de mão que muitas vezes não te passam aquela segurança desejada. Uma vaca ali não seria nem um pouco agradável. Na verdade é dificil encontrar no baiano um lugar bom pra vacar.

As três últimas enfiadas já são bem mais tranquilas. Não há proteção alguma, somente os grampos das paradas. Já estava prestes a escurecer. Optamos então pelo Tigrão ir guiando com a corda dupla e dividimos os outros quatro integrantes em duas duplas (Miniohm e Carol, Tata e eu). O primeiro de cada dupla se encordou na metade de uma das cordas e o outro no final. Subimos todos juntos numa confusão danada, loucos pra atingir o famigerado CUME.

Carol seguindo pelas ultimas enfiadas

Chegamos ao cume as 19hrs. Infelizmente já estava escuro e não foi possível ter uma vista clara da paisagem. A sensação era aquela confusão de satisfação, sede, cansaço, fome e apreensão com relação ao rapel de 650 mts, no escuro, e com chance da corda agarrar.  Curtimos bem o cume, assinamos o livro de cume, ouvimos a história contada pelo Tigrão, a respeito da garrafa de matecouro de 1967, a qual foi deixada no Cume do Baiano com um bilhete do CEB (Clube excursionista de Belo Horizonte) o qual chegou caminhando por de trás do maciço.

Cume! Lata do livro de cume e a garrafinha do CEB de 1967.

Ficamos cerca de uma hora no Cume e iniciamos o rapel por volta das 20hrs. Não sabíamos exatamente ainda como seria a melhor logística para isto. Logo nos preparamos para o pior caso, o qual seria: descermos os 5, um de cada vez, tendo que esperar o último a chegar pra iniciarmo o rapel subsequente.
Tínhamos 3 cordas de 60 metros e logo nos primeiros rapéis vimos que a melhor logística era: eu fixava uma corda e ia abrindo o rapel, montava a parada e a Tata vinha logo em seguida. O tigrão e a Carol esperavam o Miohm chegar, puxavam as 2 cordas unidas do rapel de cima, preparavam e rapelavam em A trazendo a terceira corda para eu fixar e iniciar o procedimento novamente.

O rapel foi mais uma grande lição do Baiano. Já estávamos no cume, o qual era nosso objetivo, porém ainda tínhamos um longo árduo e monótono caminho até chegar ao nosso bivaque para poder beber água, comer e dormir. Passada a euforia de concluir a escalada, o que nos restava era aceitar a situação e executar todos os procedimentos com eficiência e atenção. Reclamar só tornaria a situação pior. Dava vontade de repetir inúmeras vezes que estava morrendo de sede ou o quanto eu queria estar deitado no bivaque, mas ao invés disto, me coloquei num estado de "stand by", apenas executava as tarefas que eu tinha que fazer no rapel, me solterava na parada, apagava a headlamp e ficava meio que meditando, enquanto esperava pelo Tigrão e pela Carol trazendo a corda para eu fixar novamente e descer mais um lance de 60mts.


Foto que representa bem o clima durante o Rapel! Tata com olhos cansados. Eu em estado de meditação. Ansiosos por pisar no chão.
A situação melhorou bem quando a lua surgiu e faltavam apenas 4 rapéis até a base. Desse momento em diante a Tata e eu fomos tomados pelo otimismo e pela sensação de alegria e alívio por estar próximo do fim de uma empreitada como nunca tivemos antes na vida.

Cheguei até a base e comemorei até mais do que quando eu cheguei no cume eu acho. Demoramos 5hrs no total do rapel, isto mesmo 5 longas horas. 

A caminhada até o bivaque se mostrou eterna, até por que nesse momento eu parei de controlar minha ansiedade e deixei que ela tomasse conta, afinal, eu já havia segurado esse sentimento ao longo da empreitada inteira e isso é de certa forma desgastante. Já tranquilo com a sensação das etapas mais complexas terem sido vencidas. Faltava somente a trilha até o carro, mas isso era um assunto para o próximo dia.

As tarefas antes de dormir foram apenas beber 2 litros de água igual maluco e comer uma janta reforçada. Fomos dormir por volta das 3:30. Foram 22 horas de emoções intensas.. inesquecíveis. Isso fora a dormida zela de apenas 4 horas do dia anterior.. viajando direto do serviço... montanha é coisa de maluco mesmo. Essa foi uma das principais lições do Baiano: Montanha é coisa de maluco.

No domingo já acordamos cedo. 6:30 já estavamos de pé. O sol já nasce batendo direto no bivaque.. o calor era insuportavel, e eu já acordei um pouco desidratado. Eu estava numa fraqueza tremenda, me levantei com dificuldade e tomei logo muita água, daí tomamos café e eu melhorei rapidamente.

Descemos a trilha sem problema algum. Em cerca de 2 horas e pouco já estávamos na caixa dagua do início da trilha tomando um banho pra refrescar.


Tamires Vargas e eu, após nossa empreitada de sucesso pela via Obra do Acaso - Serra do caraça MG
Daí então marcava o fim de uma empreitada de sucesso no Baiano. Uma aventura memorável! Não aconteceu absolutamente nenhum imprevisto ou infortúnio. Fico muito grato por isto. Demoramos muito ao longo da escalada e foi bastante desgastante. Mas foi uma experiencia totalmente enriquecedora, a qual fico muito feliz por ter feito junto da Tata, minha companheira de vida!


Autor do Relato:Gilberto Martins Assunção Valadares da Silva