domingo, 22 de novembro de 2015

Pico do Baiano - Catas Altas MG

Pico do Baiano - Catas Altas MG

Relato sobre a escalada da Via Obra do Acaso 

4 de outubro de 2015

via obra do acaso


1 - Apresentação do local

O Pico do Baiano é um maciço de quartzito localizado no distrito dee Morro da Água Quente, pertencente a Catas Altas, próximo a Barão de Cocais.

O pico é um ícone classico do montanhismo mineiro, com investidas iniciadas em 1991. Possui 2016 metros de altitude com vias que chegam a 1000 metros. Para mais informações sobre a história do Pico do Baiano acesse:  http://www.montanha.bio.br/web_cem/apresenta_baiano.htm 

Foto com as principais linhas e trilhas de acesso ao Pico do Baiano. Crédito da foto:bemmaisvertical

2 - Início

Minha história com o Baiano começou em 2011. Eu escalava a menos de um ano  quando o Pablo Gonçalves me lançou o convite pra ir junto ao Cristiano e ele numa empreitada pela via Obra do Acaso.

Eu não tinha a menor ideia do que era o Pico do Baiano, mas, como o Pablo era quem estava me introduzindo ao mundo da escalada na rocha, e conhecia meu nível de experiencia, eu topei na hora.

Nenhum de nós três havia ido antes até o Baiano. O Pablo pegou informações sobre a trilha e a escalada com o tigrão. Pegamos um mapa da trilha além alguns croquis da via e fomos nós três, naquele esquema de ir direto do serviço numa sexta feira qualquer: enfrentar o transito e a viagem, encarar a trilha, bivacar na base, acordar cedo, escalar, rapelar, dormir, descer e vazar. O plano era este.


Iniciando a trilha . Por volta já de 1hora da 
manhã de um sábado.

Partes planas e tranquilas do inicio da trilha. 
A qual de repente se torna  extremamente
ingrime em vários pontos. E o bom é que 
as mochilas são pequenas e leves.
Ouvimos inúmeras vezes que a trilha era osso. E isso provou ser verdade logo na primeira meia hora de tilha. Chegamos até o ponto de estacionar o carro por volta de meia noite e meia. Começamos a trilha uma hora da manhã e rapidamente já nos encontrávamos perdidos no mato. Assim que acabaram os pontos de referência iniciais já nos perdemos. Reencontramos a trilha e continuamos nesse ciclo de nos perder e nos reencontrar por um bom tempo. Enfim chegamos já exaustos a um ponto de referencia marcante da trilha do Baiano: a barragem do riacho que nasce na montanha. Normalmente gasta-se cerca de uma hora e pouco pra chegar nesta barragem. Nós gastamos cerca de 3 horas. A partir deste ponto, o mapa de nossa trilha indicava "pirambeiras". Rapaiz, e que pirambeiras. Hoje por exemplo há cordas fixas nestes pontos que auxiliam muito a subida dessas partes muito íngremes de terra, quase verticais. Subi-las com a mochila pesada e volumosa parecia esses treinamentos do exercito. Era preciso realmente se arrastar certas vezes pra liberar os cipós emaranhados nas mochilas.

A partir deste ponto continuamos a nos perder em algumas ocasiões e já estávamos exaustos. Já estava próximo da hora de amanhecer e nem sinal da base da via. O mais frustrante era pensar que iríamos passar por todo aquele trampo e nem sequer iríamos ver a via. Pensar nisto era extremamente desanimador.

Chegando a um outro ponto de referencia, "a pequena caverna de pedra", desenhada no mapa da trilha, resolvemos deitar cerca de uma hora pra recuperar um pouco de energia e continuar tentando achar até a base da via.


Imagem do Pablo Gonçalves quando decidimos parar um pouco para descansar. Exaustos. Durante minhas outras investidas no Baiano descobri que este ponto é o utilizado para se dormir realmente, antes do dia da investida ao cume. Costuma-se gastar cerca de 3 horas até aí quando não se erra. Tínhamos gasto umas 5,5horas
Seguimos ainda por algumas horas extenuantes até finalmente encontrar a base da via Pedrita Meu Amor. Lá topamos com um outro grupo de escaladores que havia nos ultrapassado na trilha durante a noite e nem sequer os vimos. Eles nos disseram que a base da Obra do Acaso ainda era cerca de uns 40 minutos seguindo a trilha. Naquele momento já amanhecia. Seguimos por um tempo e enfim, lá pelas 7 e poco da manhã encontramos o primeiro grampo da obra do acaso. Eu já estava mais morto do que vivo após mais de 6 horas de caminhada difícil noite adentro e sem dormir nada. Era impossível começar a escalar naquele momento, e sabíamos que começando mais tarde, dificilmente atingiríamos o cume a tempo. Mas bem, havíamos pelo menos vencido a trilha do Baiano e iríamos escalar pelo menos um pouco, aquilo já era uma grande vitória. Resolvemos tentar descansar um pouco antes de entrar na via. 

Esta foto apresenta toda a floresta que foi percorrida durante uma exaustiva investida de caminhada madrugada a dentro. Neste ponto já estávamos proximos ao inicio da via, e, o dia já clareava. 
Comemos e tiramos um cochilo até as 9:30 da manhã. O Pablo começou então a guiar a primeira enfiada. O combinado é que ele guiaria todas e o Cristiano e eu iríamos como participantes conhecendo a via. Chegamos no platô da quinta enfiado por volta das 15:30. Parecíamos mais uns zumbis, meus pés latejavam de dor dentro da sapatilha. Nos demos por vencidos. Curtimos o visual, rimos bastante da nossa situação deplorável, e iniciamos a descida.

Foto nossa ainda conseguindo sorrir! Foi muito bom ter tido a oportunidade de conhecer o estilo de escalada no Baiano. Eu nem sequer tinha um capacete de escalada na época, estava escalando com um capacete de skate emprestado. 
Chegando na base comemos e apagamos. Acordamos por volta das 3 da madrugada, e, ansiosos por ir embora iniciamos logo a trilha de volta. Para descer as pirambeiras eu nem tinha forças pra segurar as pernas, eu sentava e me deixava escorregar e capotar até o fim das pirambeiras. Eu capotaria de todo jeito tentando descer mesmo.. No vim da trilha acabou que minha calça nao tinha mais a parte de trás. Estava presa pela cintura e rasgada até os joelhos.

Foto de nosso retorno do espanco total. 3 bagaços
Esta primeira ida no Baiano tinha sido a maior aventura da minha vida com certeza! Foi totalmente escruciante. Ficamos totalmente acabados. Lembro ainda com detalhes das sensações fortes de todos aqueles perrengues. Até hoje quando me encontro com o Cristiano e o Pablo a gente acaba lembrando desse episódio cômico, trágico e tão enriquecedor para nós. Uma coisa ficou certa pra mim, eu iria voltar lá com mais experiência depois pra dar o troco no Baiano.

E assim eu o fiz em julho de 2015... Fui com um time de 3 outros experientes escaladores. Estávamos fortemente armados e motivados, porém, choveu durante todo o fim de semana e ficamos igual pinto molhado escondido dois dias de baixo de um bloquinho de pedra aguardando a chuva passar... e não passou.


Bortolous, Tigrão e eu (guido tirando a foto). Com a cara de emburrados, no pé da rocha durante um breve momento de estiagem da chuva. Pdera encharcada.

3 - Preparação para a 3a investida ao Baiano

Logo em outubro de 2015, 3 meses após minha segunda investida no baiano, começou a dar aquela vontade de novo de fazer uma montanha. Dei logo ideia no meu parceiro tigrão para ver se ele teria interesse, ele é claro topou na hora. Chamei também a Tatá - não sabia se ela teria interesse em algo do tipo. Ela havia apenas a experiência do pão de açucar, o qual fizemos juntos. Mas, como ela ama um desafio, nem pensou duas vezes também e animou na hora.

A princípio nem iríamos para o Baiano, mas daí os planos mudaram pela força do destino e de repente estávamos lá: Tigrão, Carol e Minion / Tata e eu, iniciando a famosa trilha do Baiano numa noite de sexta feira, dia 2 de outubro de 2015. 

Rompemos bem pelo caminho. Hoje há cordas fixas nas partes mais íngremes da trilha, as quais ajudam bastante. Mesmo assim é uma trilha nível Very Fucking Hard. Fizemos a trilha num tempo muito bom, 2 hora e meia. Comemos um pouco e lá pelas 1:30 da manhã já estávamos dormindo.

No dia seguinte faríamos todos a via obra do acaso, subindo em duas cordadas independentes.



4 - A Escalada

Sol nascendo no ponto de bivaque.

No sábado já comecei a acordar lá pelas 5hrs. Dei uma enrolada até o relógio despertar as 5:30h e já pulei do saco de dormir chamando por todo mundo: Bora escalar galera!

Tomamos um bom café da manhã, organizamos as mochilas de ataque com os equipos: headlamp, água, lanches, corta vento e toda aquela tralha da escalada. Lá pelas 6:30h seguimos em direção a base da via. 
Tamires Vargas seguindo pela trilha, já próxima a base da via Obra do Acaso. Toda essa floresta que se vê atrás dela, até o vilarejo ao fundo, é percorrida a noite. São cerca de 2,5 a 3 horas num ritmo bom, quando não se erra o caminho Dormimos num ponto cerca de 40min de caminhada até esse ponto.
Depois de cerca de uma hora de caminhada bastante íngreme chegamos à base. Nos organizamos e lá pelas 8:00-8:30h o Tigrão iniciou a primeira enfiada. Como participantes na cordada dele estavam a Carol e o Miniohm. A Tamires e eu compúnhamos uma cordada independente logo atrás, fomos revesando a ponta da corda a cada parada.

Vista da base da via Obra do Acaso. Um mundo velho de Quartzito pra escalar até perder de vista. O último ponto que pode ser visto por essa foto não é sequer o cume, se não me engano é a 9 enfiada, conhecida como a enfiada do "Muro".
Após o primeiro grupo chegar na parada eu iniciei guiando os primeiros 55mts. Uma enfiada com um crux bem protegido logo após a segunda chapa, a parede fica bem vertical e o posicionamento não é nem um pouco óbivio, com agarras de mao bem pequenas, menos de uma falange. Bem interessante esse primeiro crux. Depois vem um esticão, nada difícil se comparado ao que a via aguardava mais a frente.

Os próximos 55mts foram guiados pela Tata. Esta era uma enfiada bastante exposta; com apenas 2 grampos, mas também apresentava um nível inferior de exigência técnica, se comparado ao restante da via.

Tamires Vargas guiando a 2a enfiada da via Obra do Acaso. Apenas uma costura ali perdida no meio da corda.. A grande parte da escalada é realmente com a inclinação positiva, mas em muitos momentos as agarras de pé e de mão desaparecem.. e a costura está laaa em baixo.
Na terceira enfiada já era o lance do crux de 7c, o qual é possível fazer em artificial A0/1, utilizando o furo de cliff entre a primeira e a segunda chapa (tem um video bom no youtube pra quem quiser visualizar onde é exatamente o furo de cliff https://www.youtube.com/watch?v=QwRzrN1vMTU ). Na sequencia desse crux já há uma passagem bem técnica e complicada. Lembro de terminar de fazer esse lance, ficando a uns 3-4mts da chapa e pensar assim (ufa, passei desse.. agora é só costurar e ficar de boa, levei a mão no rack pra pegar uma costura, e quando dei por mim, eu ainda estava a uns 3-4mts do proximo grampo. Aos poucos o Baiano ia sempre te surpreendendo, com lances tecnicos bem diferentes um do outro e uma sensação de exposição que te obriga a manter a calma de um jeito ou de outro.

A quarta enfiada seguiu o ritmo. Um longuíssimo esticão, o qual permite diferentes opções de caminho pela rocha. Pés delicados e poucas agarras de mão.

Gilberto Silva vindo pela 4a enfiada da via Obra do Acaso

A quinta enfiada, guiada por mim, era a que me dava mais preocupação. Eu me lembrava da falta de agarras total do lance antes de chegar na parada. Eu havia passado por aquele lance cerca de 4 anos antes e ainda assim essa memória era bem vívida. Além disto, o Tigrão já havia caido neste lance, o que abalava bem meu psicológico. 
Os lances ao longo desta 5a enfiada são bem interessantes há um crux de 5º/6º numa laca, o qual eu preferi ir direto do grampo para as agarras boas da laca, enquanto o pessoal optou por ir pela direta liseba e depois fazer um travessia desajeitada. Para chegar no top é realmente exposto pra caramba! O ideal é seguir a linha mais natural da rocha a qual faz uma curva mais a esquerda, apesar da vontade de ir diretamente para os grampos da parada. O lance realmente é mais fácil fazendo uma travessia para a esquerda dos grampos e depois subindo até eles numa diagonal para a direita. Nesse ponto o pessoal da cordada acima me ajudou bastante, eu já estava há uns 3 metros deles, então pedi pra lançarem um pedaço de corda fixa.
Nesta parada há um plato confortável. Uma boa opção para comer alguma coisa e até relaxar um pouco. Demos uma parada duma meia hora no mínimo. E tomamos mais sol na mulera sem dó.

A face do baiano é virada praticamente para o leste. O sol incide desde o momento que nasce até aproximadamente 14-15hrs da tarde. (varia é claro de época pra época. Estávamos em outrubro).

O sol se mostrava relativamente amigo. O calor era muito, porém, podia ser muito pior. Em poucos momentos tivemos incidência totalmente direta do sol. Na maior parte do tempo havia uma camada bem rala de nuvens, e, de vez em quando, até uma nuvem mais espessa proporcionava uma sombra de verdade. A desidratação era meu maior medo desde o início. Se não fosse essas nuvens amigas certamente teríamos que abortar a missão.

Ao longo destas primeiras enfiadas fomos entendendo bem o estilo de escalada no Baiano. O enorme maciço de quartzito se mostrava quase sempre levemente positivo, as vezes mais.. outras vezes bem menos. O padrão de agarras se mostra constante: pés muito delicados e pequenos regletes de mão. A escalada se concentra num bom trabalho de pés e na manutenção da calma. Toda enfiada, até a 8 ou 10 guarda sempre no mínimo alguns metros mais desafiadores.. certas vezes em esticões longos. Mas se está na montanha, é pra ter emoção!

Seguimos então pela 6a enfiada. A Tata e eu invertemos a ordem e eu voltei do descanso guiando novamente. Esta é uma enfiada muito delicada, logo a saída já é dificil e entre a 4 e a 5 proteção há um crux de 6o grau, o qual pode ser transposto utilizando um furo de cliff proximo a 4 chapa. O tigrão já havia deixado o estribo na 5 chapa então eu não tive o trabalho de procurar pelo furo (e olha que eu procurei por curiosidade e não achei, ainda bem que o estribo já estava lá! Mais uma bela ajuda da cordada guiada pelo Tigrão).

Cordada composta pela Carol Minion e Tigrão. Seguindo pela 6a enfiada

A 7a e 8 enfiada seguem o rítimo dos esticões incríveis onde a cada subida de pé é uma vitória. Em vários momentos você se encontra num dilema tremendo: Será que esse pé minusculo aqui não vai escapar? Será que eu confio nessa ruguinha áspera aqui da rocha, mesmo a última chapa estando 4-5 metros abaixo? Vou o não vou.. voo ou não voo... E aí as horas vão passando... somando a isto os trâmites burocráticos dos procedimentos normais de escalada em grandes paredes e do volume grande de pessoas no nosso grupo chegamos ao final da 8a enfiada por volta das 16hrs. Ainda faltavam 5. Isso mesmo, 5. E a ideia de desistir nem sequer existia em nossas cabeças, hora nenhuma chegou sequer a ser cogitada. E então bora pra cima que a investida estava incrível! muitas emoções e aprendizados. E a sensação do cume do Baiano estar chegando para mim era totalmente nova, e parecia difícil de acreditar. Em fim o Baiano iria se render a minha insistência.. mas eu não queria contar vitória antes da hora.


Tamires, na parada apos a 6a enfiada

Minion guiando a 7a enfiada! Vários lances bem técnicos e expostos nesta parte.
A Tata guiou essa enfiada na sequencia. Mandou bem pra caramba!

Tata e eu, na parada da 8a enfiada

A Tamires guiou a 9a enfiada. A partir desta, a característica da escalada muda bastante. Esta parte da via é bem particular. Uma fenda de agarrões, mas não só agarrões é claro. Totalmente diferente do restante da via.

Eu, na parada apos a  9a enfiada

A 10a enfiada é muito exposta. 2 grampos apenas. Utilizar friends ajuda muito, principalmente para quem está indo pela primeira vez, como foi o meu caso. Os lances não são difíceis, mas a visualização não é obvia e são fendas onde deve-se usar lances de oposição em agarras de mão que muitas vezes não te passam aquela segurança desejada. Uma vaca ali não seria nem um pouco agradável. Na verdade é dificil encontrar no baiano um lugar bom pra vacar.

As três últimas enfiadas já são bem mais tranquilas. Não há proteção alguma, somente os grampos das paradas. Já estava prestes a escurecer. Optamos então pelo Tigrão ir guiando com a corda dupla e dividimos os outros quatro integrantes em duas duplas (Miniohm e Carol, Tata e eu). O primeiro de cada dupla se encordou na metade de uma das cordas e o outro no final. Subimos todos juntos numa confusão danada, loucos pra atingir o famigerado CUME.

Carol seguindo pelas ultimas enfiadas

Chegamos ao cume as 19hrs. Infelizmente já estava escuro e não foi possível ter uma vista clara da paisagem. A sensação era aquela confusão de satisfação, sede, cansaço, fome e apreensão com relação ao rapel de 650 mts, no escuro, e com chance da corda agarrar.  Curtimos bem o cume, assinamos o livro de cume, ouvimos a história contada pelo Tigrão, a respeito da garrafa de matecouro de 1967, a qual foi deixada no Cume do Baiano com um bilhete do CEB (Clube excursionista de Belo Horizonte) o qual chegou caminhando por de trás do maciço.

Cume! Lata do livro de cume e a garrafinha do CEB de 1967.

Ficamos cerca de uma hora no Cume e iniciamos o rapel por volta das 20hrs. Não sabíamos exatamente ainda como seria a melhor logística para isto. Logo nos preparamos para o pior caso, o qual seria: descermos os 5, um de cada vez, tendo que esperar o último a chegar pra iniciarmo o rapel subsequente.
Tínhamos 3 cordas de 60 metros e logo nos primeiros rapéis vimos que a melhor logística era: eu fixava uma corda e ia abrindo o rapel, montava a parada e a Tata vinha logo em seguida. O tigrão e a Carol esperavam o Miohm chegar, puxavam as 2 cordas unidas do rapel de cima, preparavam e rapelavam em A trazendo a terceira corda para eu fixar e iniciar o procedimento novamente.

O rapel foi mais uma grande lição do Baiano. Já estávamos no cume, o qual era nosso objetivo, porém ainda tínhamos um longo árduo e monótono caminho até chegar ao nosso bivaque para poder beber água, comer e dormir. Passada a euforia de concluir a escalada, o que nos restava era aceitar a situação e executar todos os procedimentos com eficiência e atenção. Reclamar só tornaria a situação pior. Dava vontade de repetir inúmeras vezes que estava morrendo de sede ou o quanto eu queria estar deitado no bivaque, mas ao invés disto, me coloquei num estado de "stand by", apenas executava as tarefas que eu tinha que fazer no rapel, me solterava na parada, apagava a headlamp e ficava meio que meditando, enquanto esperava pelo Tigrão e pela Carol trazendo a corda para eu fixar novamente e descer mais um lance de 60mts.


Foto que representa bem o clima durante o Rapel! Tata com olhos cansados. Eu em estado de meditação. Ansiosos por pisar no chão.
A situação melhorou bem quando a lua surgiu e faltavam apenas 4 rapéis até a base. Desse momento em diante a Tata e eu fomos tomados pelo otimismo e pela sensação de alegria e alívio por estar próximo do fim de uma empreitada como nunca tivemos antes na vida.

Cheguei até a base e comemorei até mais do que quando eu cheguei no cume eu acho. Demoramos 5hrs no total do rapel, isto mesmo 5 longas horas. 

A caminhada até o bivaque se mostrou eterna, até por que nesse momento eu parei de controlar minha ansiedade e deixei que ela tomasse conta, afinal, eu já havia segurado esse sentimento ao longo da empreitada inteira e isso é de certa forma desgastante. Já tranquilo com a sensação das etapas mais complexas terem sido vencidas. Faltava somente a trilha até o carro, mas isso era um assunto para o próximo dia.

As tarefas antes de dormir foram apenas beber 2 litros de água igual maluco e comer uma janta reforçada. Fomos dormir por volta das 3:30. Foram 22 horas de emoções intensas.. inesquecíveis. Isso fora a dormida zela de apenas 4 horas do dia anterior.. viajando direto do serviço... montanha é coisa de maluco mesmo. Essa foi uma das principais lições do Baiano: Montanha é coisa de maluco.

No domingo já acordamos cedo. 6:30 já estavamos de pé. O sol já nasce batendo direto no bivaque.. o calor era insuportavel, e eu já acordei um pouco desidratado. Eu estava numa fraqueza tremenda, me levantei com dificuldade e tomei logo muita água, daí tomamos café e eu melhorei rapidamente.

Descemos a trilha sem problema algum. Em cerca de 2 horas e pouco já estávamos na caixa dagua do início da trilha tomando um banho pra refrescar.


Tamires Vargas e eu, após nossa empreitada de sucesso pela via Obra do Acaso - Serra do caraça MG
Daí então marcava o fim de uma empreitada de sucesso no Baiano. Uma aventura memorável! Não aconteceu absolutamente nenhum imprevisto ou infortúnio. Fico muito grato por isto. Demoramos muito ao longo da escalada e foi bastante desgastante. Mas foi uma experiencia totalmente enriquecedora, a qual fico muito feliz por ter feito junto da Tata, minha companheira de vida!


Autor do Relato:Gilberto Martins Assunção Valadares da Silva





quinta-feira, 18 de junho de 2015

Via quadrado magico - Serra do Cambotas - MG

Repetição da Via quadrado Mágico - Serra do Cambota, Caeté - MG


Apresentação do Local


A serra do cambotas fica próximo ao município de Barão de Cocais. O maciço fica dentro da propriedade do Senhor Itamar: O Canela de Ema Adventure Park (http://canelaema.com.br/contato/).

O Canela de Ema oferece várias opções de atividades outdoor e permite o livre acesso dos escaladores ao belo maciço de quartizito apresentado na foto abaixo.
Sede do Canela de Ema: Casa do proprietário a frente, restaurante acima e o incrível maciço de Quartizito do cambotas ao fundo.
A trilha entre a sede e a base das vias dura cerca de 1 hora. É um caminho bem demarcado e tranquilo até o costão. Os últimos 500 metros são de subida forte por entre pedras.

Hoje o pico conta com cerca de 60 vias, entre tradicionais e esportivas. Há opções do 4º ao 10º grau. Vários setimos, oitavos etc bem longos. Rocha de ótima qualidade, bastante aderente mesmo em dias úmidos. Abaixo é apresentado o croqui com as principais vias do local.

Principais vias do Cambotas

Principais vias do cambotas

Como chegar a Serra do Cambotas


Para chegar até o local, partindo de Belo Horizonte, as duas opções mais utilizadas são:

  • Passando por Sabará-Caeté: Total = 80km sendo 24km de terra.
  • Por Caeté-Barão de Cocais: Total = 115km sendo 8km de terra


Mapa de como chegar ao Canela de Ema Adventure Park: Ponto de partida para acessar o maciço da serra do Cambotas.

Regras do Local

Sempre que desejar ir ao Cambotas, deve se chegar ao local durante o dia. A porteira fica trancada no período noturno e não convém incomodar os proprietários e funcionários fora do horário de funcionamento normal. É possível chegar a noite, desde que seja previamente combinado com o proprietário (veja opções de contato pelo site http://canelaema.com.br/contato/).
O estacionamento é cobrado por carro (aproximadamente R$25,00). As opções de pernoite mais utilizada pelos escaladores é o bivaque ou barraca. Há três pontos de acampamento mais comuns:

  1. Logo no inicio da trilha, à direita, na beira do riacho (vantagem: local agradável, proximo ao estacionamento e à fonte de agua limpa. Desvantagem: distante cerca de 1h da pedra.)
  2. Pedras caídas: É uma área aberta, próximo a blocos enormes de pedras, logo antes do costão de aproximação do maciço. (vantagem: relativamente próximo a pedra (cerca de 15 minutos), não se sobe o costão com a mochila tão pesada. Desvantegem: é necessário caminhar 75% da trilha com a mochila pesada)
  3. base da pedra: A base da pedra oferece várias opções para bivaque e alguns pontos para armar barraca. Como o maciço é negativo, não chove na base, sendo possível bivacar mesmo em tempos de chuva. (vantagens: proximidade das vias, só se sobe o costão uma vez. Desvantagens: deve-se subir toda a trilha com a bagagem completa. Não há bons pontos de água o ano inteiro.
O Canela de Ema também oferece opções de hospedagem, além de refeições. Estas opções devem ser acertadas diretamente com o Senhor Itamar.

Relato da escalada da via Quadrado Mágico


No fim e semana do dia 12 de abril de 2015, Gustavo Vianna (Tigrão) e eu combinamos de fazer a repetição da via Quadrado Mágico, única via finalizada que leva ao cume do polegar no Cambotas (polegar é torre a direita do cume principal).

A via é composta por 2 enfiadas, sendo a primeira fixa (7c - aprox. 50 metros ou mais) e a segunda um 6º misto (movel/fixo - aprox. 30 metros).

Para acessar a via, escolhemos fazer a primeira enfiada da via Aresta Eletrizante, a qual é um 7b E3 misto (movel/fixo) de 40 metros. Desta forma, nossa empreitada ficou sendo:
  • 1 enfiada: 7b misto - E3 - 40 metros
  • 2 enfiada: 7c/8a fixo - 50 metros
  • 3 enfiada: 6 misto - E2 - 30 metros
Material Necessário:
  • Jogo de camalot do 0,3 ao 4
  • 18 costuras
  • 2 paradas completas
  • Fitas de diversos tamanhos
  • Recomendado um jogo de nuts para a primeira enfiada

Linha da via escalada: 1ª enfiada da Aresta Eletrizante e Via Quadrado Mágico, levando ao cume do Polegar

1ª enfiada


Conforme dito na seção anterior, acessamos a via Quadrado Mágico utilizando a primeira enfiada da Aresta Eletrizante. O tigrão foi quem guiou esta parte enquanto eu fui limpando para conhecer.

Gustavo Vianna (Tigrão) colocando a primeira proteção da primeira enfiada da via Aresta Eletrizante. Gilberto Silva na segurança. (Bem Alto para uma primeira proteção correto?!?)

A primeira proteção é bastante alta, cerca de 10 metros. É possível colocar duas peças bem encaixadas e então seguir para o crux, a linha da via nesta parte não é óbvia, após encaixar as peças, deve-se fazer uma travessia para a direita, descendo um pouco pela fenda. Os pés são num matagal conforme dá pra ver na foto, após esta pequena travessia, inciasse alguns lances de 7b em agarras médias. Na verdade, minha sensação foi de que o crux da via não é muito bem definido, há algumas outras passagens de 7b, principalmente no negativo final, mas são agarras boas.

Gustavo Vianna colocando a terceira proteção da primeira enfiada da via aresta eletrizante. 

Achei esta primeira enfiada complicada, e fiquei aliviado de ter ido como participante. Me lembro de por algumas vezes estar blocado na parte negativa tentando retirar peças enquanto eu pensava: " se está ruim pra retirar, imagina pra colocar". Mas, confesso que pode ter sido vacilo meu, de mal posicionamento ou pura falta de técnica mesmo kkkk. Preciso voltar lá pra avaliar melhor esta enfiada incrível.


Gustavo Vianna seguindo guiando na primeira enfiada da via Aresta Eletrizante

Gustavo Vianna proximo do final da primeira enfiada da via Aresta Eletrizante. Na parte superior da foto, é possível ver a aresta mais clássica e famosa do Cambotas! 
O número de proteções móveis pode variar de 6 a 12 aproximadamente.. dependendo do equipamento, do grau de conhecimento da via etc... Há cerca de 3 proteções fixas. O grau de exposição não fica menor que E3 independente do caso.

Terminamos a primeira enfiada logo após virar este negativo de agarras boas apresentado na última foto, seguindo sempre a linha da fenda para a esquerda. Neste platô fizemos uma parada com fita numa árvore sólida localizada acima da parada dupla da via directa na aresta (há inclusive um corda fixa entre esta parada dupla e a árvore a qual utilizamos).

Alcançado o platô, o próximo passo foi ir andando para a direita, cerca de 50 metros, até alcançar o jardim dos sonhadores, ali inicia-se a via quadrado mágico. Entre a parada na árvore e o primeiro grampo da via quadrado mágico estão as duas proteções utilizadas para rapelar até a base na volta.

1ª Enfiada da Via Quadrado Mágico


Esta enfiada é toda fixa. São necessárias 16 custuras. Recomenda-se utilizar fitas longas (60/40cm) para evitar o atrito pois a via é longa e vai fazendo uma curva suave para a esquerda.

Esta é a melhor enfiada da via. Um 7c incrível que tive o prazer de guiar. O crux acho que pode ser considerado o último lance, mas no geral é bem diluída, o primeiro lance também já é bem estranho, pra iniciar a via tem que dar uma bancada bem "desequilibrenta" pra subir na torre do polegar, mas nada de outro mundo não.. alguns lances mais exigentes seguidos de agarras boas. Esticões razoáveis, em geral bem protegidos. Há vários lances técnicos, na aresta abaolada, além uma boa sensação de exposição pra animar o caboco. O melhor é o visual sem igual da via Aresta Eletrizante logo ao lado.
Gilberto Silva (pequeno pixel branco indicado pelo risco vermelho) chegando próximo ao final da primeira enfiada da via quadrado mágico. 


Cordada Gilberto Silva e Gustavo Vianna na primeira enfiada da via quadrado mágico.

Gustavo Vianna subindo limpando a primeira enfiada da via quadrado mágico. foto tirada na parada da primeira enfiada.

  2ª Enfiada da via Quadrado Mágico e CUME!


A segunda enfiada da via, nossa terceira e última do dia, era um sexto grau com cerca de 3 proteções fixas e com possibilidade de 3 a 6 proteções móveis. O lance mais complicado eu diria que é logo a saída da parada, pois é meio sujo de mato e terra, só tomar cuidado que não tem erro. No mais é ir curtindo o visual e a sensação de estar prestes a alcançar o cume do Polegar do Cambotas!

Gustavo Vianna guiando a última enfiada da via Quadrado Mágico. 6 grau misto. Curtição!!
Chegando ao cume, deixamos um novo caderno de cume, assinamos, curtimos o visual, tiramos um self pra registro e depois foi rapelar até a base.

Self no cume da via quadrado mágico. Cume do Polegar na Serra do Cambotas.
Levamos, na empreitada como um todo, cerca de 3 horas ou mais eu acredito. Foi uma escalada bem prazerosa e meu primeiro cume no Cambotas. Fiquei feliz pra caramba e agradeço a parceria do tigrão!


Autor do relato: Gilberto Martins Assunção Valadares da Silva


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Pedra Menina - Via: No último Minuto

Pedra Menina – Minas Gerais - 18/10/2014

Preparação

Meu amigo Pastor e eu, com o intuito de ganharmos mais experiência no mundo vertical, procuramos nosso camarada Gustavo Vianna para umas aulinhas de vias de parede.

Lá fomos nós para nossa primeira empreitada. O local escolhido foi a pedra menina, próximo a Carandaí-MG. O maciço é bem bonito, de granito gnaisse, localizado numa região rural de gente muito boa e receptiva.

Dentre as várias vias disponíveis, escolhemos a via No Último Minuto 5+ VIsup (7a/A0) E3 D1. Tínhamos o croqui desta via e de várias outras, selecionamos esta pois gostamos da linha e das características técnicas (mal sabia eu o que era o diabo de um E3, mas estava prestes a conhecer).

Nenhum de nós nunca tínhamos ido até o local. Além do croqui, tínhamos informações de como chegar no lugarejo e na pedra, passadas pelo pessoal que costuma frequentar o pico.

As informações não se mostraram muito precisas, a partir daí surgiu minha idéia de montar um relato com informações mais detalhadas.

Como chegar até a Pedra Menina:

Partindo de Belo Horizonte, a ida pode ser dividia em três partes:

1.       Saída de BH pela br040 sentido Rio de Janeiro. Ao passar o trevo de Carandaí, 500 metros a frente terá uma sequencia de dois viadutos bem próximos um ao outro. Deve-se entrar a primeira à esquerda EXATAMENTE após o segundo viaduto. Há um retorno cerca de 1 km a frente, num posto de gasolina.

2.       Seguir direto até o povoado de Palmital dos Carvalhos. A estrada de asfalto irá cair na avenida principal do vilarejo que tem um CANTEIRO CENTRAL. Vire à direita, siga em frente, passe a igreja e continue reto. Vire a DIREITA na bifurcação de estrada de terra a qual esta estrada termina;

3.       A Partir daí, vire sempre a ESQUERDA. O próximo vilarejo é o do pião, onde a rocha se encontra. Siga reto até a pequena igrejinha a sua direita. A ingrejinha fica atrás de uma tronqueira. Ao lado de um Butequim. Daí há varias opções de onde deixar o carro e começar a caminhada. Ou na igreja mesmo, ou seguir reto mais uns 500 metros de carro na estrada e entrar nas fazendas á direita. Olhando de frente para a igrejinha, a Pedra Menina estará cerca de 1,5km sentido NOROESTE. Esta é uma informação importante caso você chegue anoite e não seja possível ver a pedra.
A Orientação da pedra é Oeste. Fomos em outubro, o sol batia no paredão a partir de meio dia aproximadamente.

Mapa da localização do maciço da Pedra Menina (muito útil para quem chegar a noite no local)

Aproximação até a via

Partimos de BH às 20:40. Estacionamos o carro para começar a trilha a meia-noite. A única demora foi porque paramos para comer no posto entre o retorno e a entrada para Palmital dos Carvalhos. Era uma sexta feira e não houve trânsito intenso.

O beta que tínhamos era de deixar o carro na igrejinha. Fizemos isto e seguimos pela porteira ao lado do botequim. Tínhamos uma outra informação de dormir num curral. Achamos uma coberta após 15 min de trilha. O local era estranho, pouco convidativo para armar acampamento. Resolvemos seguir reto e achamos outro curral de pau a pique, também não achamos convidativo para dormir. Seguimos mais 10min para a direita. Conformamos com a ideia que estávamos perdidos e resolvemos dormir.

Durante todo este tempo tínhamos sempre a sensação que a pedra estava a nossa direita, pois, era onde o terreno se elevava.


Acampamento 1: bem longe da pedra, neste momento da foto estávamos mais perdidos que azeitona em boca de banguelo

No outro dia acordamos bem cedo, por volta das 5:30, tomamos um café, e, após uma breve reconhecida no terreno, percebemos que não tínhamos sequer sinal da Pedra Menina. Começamos então a saga para achar o tal maciço.

Foram cerca de 2 horas para visualizar a pedra, isto mesmo, duas horas de muita subição de morro e caminhadas em vão, até nosso companheiro Gustavo Vianna descer até o vilarejo e perguntar aonde se encontrava a tal Pedra Menina. Está aí a importância de um bom beta e um bom relato: evitar a vergonha de ir escalar e ter a sensação de que sequer a pedra você conseguirá ver.

Se tivéssemos o mapa que desenhei no capítulo acima, teríamos sido poupados dessa roubada que teve como consequência a nossa sede mortal no meio da via num sol escaldante.

Ao visualizar o maciço, começou nossa saga para encontrar a base da via. Isto também não foi nada fácil. Acabamos entrando numa via errada, segunda mancada dos caipirões de primeira: Pastor, Gustavo e Eu. Mas era pra isso que estávamos lá, quebrar a cara, consertar o erro, e entrar em outra roubada logo em seguida. Permanecemos nesse loop infinito até domingo a noite. Não faltou diversão hora nenhuma.

Pelos nossos cálculos, nós entramos por engano na via choquito, uma via inacabada. Tínhamos a informação do croqui que havia um totem na base da via e os primeiros lances eram numa canaleta. Aparentemente este totem havia sido levado pela chuva. Como a via choquito começa numa fenda bem grande em um “totem” enorme, decidimos acreditar que ela era a canaleta.

O guia logo percebeu o erro, desceu da via ,e, enfim, lá pelas 10:00h aproximadamente conseguimos finalmente achar a base da via, cerca de uns 15 metros a direita da choquito.

Ou seja, foram cerca de 4 horas de tropeços para enfim começar a melhor curtição! E, enquanto isso, nosso estoque de água só baixava.


Primeira enfiada da via No Último Minuto - Pedra Menina - Como deu trabalho simplesmente chegar até aí!


A escalada:

A primeira enfiada da via é bem legal. Um 6sup com uns 2 lances mais técnicos. Não utilizamos o móvel antes da parada como dizia no croqui. O estilo da escalada é de muita aderência. Poucas agarras de mão passam confiança. A rocha é aderente, mas os lances muitas vezes são adrenantes.


Bernardo Pastorine (Pastor) chegando na parada P1

A segunda enfiada segue o ritmo da primeira: agarras de pé e mão bem pequenas, muitos lances de aderência e equilíbrio além da sensação constante de a qualquer momento escorregar via abaixo. Há um lance de 5sup esticado. O final é uma travessia horizontal delicada. Muito boa esta enfiada.

A terceira enfiada pode gerar dúvida. Deve-se continuar na travessia horizontal somente um grampo após a parada P2, e, a partir daí seguir verticalmente. Nós seguimos os grampos horizontais na travessia e acabamos entrando em outra via que não sabemos o nome (terceira grande mancada, vou parar de contabilizar de agora pra frente). Esta terceira enfiada termina numa outra travessia horizontal no sentido contrário. Bem mais tranquila que a primeira. Tranquila em termos, pois, foi nela que nosso maior incidente ocorreu.


Pastor e eu, errando a linha da via após a P2. Inocentemente felizes..

Nessa última travessia aconteceu um infortúnio com nossa equipe. O segundo a subir levou uma enorme vaca próximo ao penúltimo grampo da travessia, como era uma passagem horizontal, a queda foi em pêndulo, daquelas ruins de tomar. A vaca foi longa com direito a duas quicadas na parede. Passado o enorme susto inicial e conferida a situação de nosso companheiro, juntamo-nos na parada P3 para avaliarmos nossa condição. A situação era a seguinte: havia uma possibilidade pequena de chuva, estávamos tomando muito sol e com muita sede. A água estava praticamente no fim. Faltavam mais três enfiadas no total: uma com um final bastante exposto (4a enfiada), uma enfiada fácil (5ª enfiada) e um trepa pedra até o cume (6ª enfiada). O psicológico da equipe estava abalado devido a vaca e a sede. Mas decidimos terminar a via: eram 3 rapéis e ficar sem cume, ou 3 enfiadas e sair com cume. Bora tocar pra cima então!


Eu guiando rumo a parada P4 (ou P3 não lembro)

A quarta enfiada é bem interessante e ótima para se guiar, até o penúltimo grampo. Para chegar na parada P4, há um diedro de cerca de 6 metros sem proteção. É muito exposto (E3) e não convém cair. Lembro-me de engolir seco ao ver a distância que a próxima proteção estava de mim, não queria ser o próximo a sair quicando pela parede, porém, a sede estava tanta, a vontade de voltar ao acampamento e beber água era tão grande que eu nem titubiei muito em começar logo a subir aquele diedro. Foi o lance mais exposto e adrenante que já guiei. Fiquei muito satisfeito com a superação do medo.

A quinta enfiada é relativamente tranquila. Mais positiva, porém, a pedra fica cada vez mais lisa e tem apenas 3 proteções em 60 metros.
A sexta enfiada talvez nem mereça ser considerada um enfiada. Subimos todos a pé, sem proteção.


Os três mortos de sede no famigerado CUME!!!

Toda a escalada durou cerca de 4 horas. Ou um pouco mais talvez. Para poder beber água, ainda tivemos que caminhar quase uma hora até nosso acampamento, o qual confirmamos estar localizado no meio de lugar nenhum bem distante da pedra.

Para terminar nosso dia light ainda tivemos que juntar forças para mudar nosso acampamento de lugar, fomos para perto da pedra. Quando enfim me encontrei deitado no colchonete da barraca não gastou nem 5 segundos pra eu apagar, mas, ainda deu tempo de dar umas risadas sozinho pelo dia incrível que havíamos tido. 



O naipe de como andávamos mato a fora. Dica útil, nunca leve a porra duma caixa de papelão pra andar no mato. Dê um jeito de caber tudo nas mochilas.

A investida como um todo foi muito exaustiva, a sede foi o perrengue mais marcante. O aprendizado com relação à logística e informações precisas foi enorme, além disto, o aprendizado técnico com relação aos procedimentos, monitorado pelo nosso companheiro Gustavo Vianna, foi muito bom.
A intenção a princípio (quando saímos de Belo Horizonte) era encarar outra empreitada no dia seguinte, porém, concluímos que já havíamos tido emoções suficientes, e, então, reservamos apenas uns treinamentos leves de escalada em móvel para o domingo. Foi a melhor decisão que podíamos ter tido.


Autor do relato: Gilberto Martins Assunção Valadares da Silva

Croqui da via No Último Minuto

Croqui da Via No Último Minuto - Pedra Menina MG