sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Pedra Menina - Via: No último Minuto

Pedra Menina – Minas Gerais - 18/10/2014

Preparação

Meu amigo Pastor e eu, com o intuito de ganharmos mais experiência no mundo vertical, procuramos nosso camarada Gustavo Vianna para umas aulinhas de vias de parede.

Lá fomos nós para nossa primeira empreitada. O local escolhido foi a pedra menina, próximo a Carandaí-MG. O maciço é bem bonito, de granito gnaisse, localizado numa região rural de gente muito boa e receptiva.

Dentre as várias vias disponíveis, escolhemos a via No Último Minuto 5+ VIsup (7a/A0) E3 D1. Tínhamos o croqui desta via e de várias outras, selecionamos esta pois gostamos da linha e das características técnicas (mal sabia eu o que era o diabo de um E3, mas estava prestes a conhecer).

Nenhum de nós nunca tínhamos ido até o local. Além do croqui, tínhamos informações de como chegar no lugarejo e na pedra, passadas pelo pessoal que costuma frequentar o pico.

As informações não se mostraram muito precisas, a partir daí surgiu minha idéia de montar um relato com informações mais detalhadas.

Como chegar até a Pedra Menina:

Partindo de Belo Horizonte, a ida pode ser dividia em três partes:

1.       Saída de BH pela br040 sentido Rio de Janeiro. Ao passar o trevo de Carandaí, 500 metros a frente terá uma sequencia de dois viadutos bem próximos um ao outro. Deve-se entrar a primeira à esquerda EXATAMENTE após o segundo viaduto. Há um retorno cerca de 1 km a frente, num posto de gasolina.

2.       Seguir direto até o povoado de Palmital dos Carvalhos. A estrada de asfalto irá cair na avenida principal do vilarejo que tem um CANTEIRO CENTRAL. Vire à direita, siga em frente, passe a igreja e continue reto. Vire a DIREITA na bifurcação de estrada de terra a qual esta estrada termina;

3.       A Partir daí, vire sempre a ESQUERDA. O próximo vilarejo é o do pião, onde a rocha se encontra. Siga reto até a pequena igrejinha a sua direita. A ingrejinha fica atrás de uma tronqueira. Ao lado de um Butequim. Daí há varias opções de onde deixar o carro e começar a caminhada. Ou na igreja mesmo, ou seguir reto mais uns 500 metros de carro na estrada e entrar nas fazendas á direita. Olhando de frente para a igrejinha, a Pedra Menina estará cerca de 1,5km sentido NOROESTE. Esta é uma informação importante caso você chegue anoite e não seja possível ver a pedra.
A Orientação da pedra é Oeste. Fomos em outubro, o sol batia no paredão a partir de meio dia aproximadamente.

Mapa da localização do maciço da Pedra Menina (muito útil para quem chegar a noite no local)

Aproximação até a via

Partimos de BH às 20:40. Estacionamos o carro para começar a trilha a meia-noite. A única demora foi porque paramos para comer no posto entre o retorno e a entrada para Palmital dos Carvalhos. Era uma sexta feira e não houve trânsito intenso.

O beta que tínhamos era de deixar o carro na igrejinha. Fizemos isto e seguimos pela porteira ao lado do botequim. Tínhamos uma outra informação de dormir num curral. Achamos uma coberta após 15 min de trilha. O local era estranho, pouco convidativo para armar acampamento. Resolvemos seguir reto e achamos outro curral de pau a pique, também não achamos convidativo para dormir. Seguimos mais 10min para a direita. Conformamos com a ideia que estávamos perdidos e resolvemos dormir.

Durante todo este tempo tínhamos sempre a sensação que a pedra estava a nossa direita, pois, era onde o terreno se elevava.


Acampamento 1: bem longe da pedra, neste momento da foto estávamos mais perdidos que azeitona em boca de banguelo

No outro dia acordamos bem cedo, por volta das 5:30, tomamos um café, e, após uma breve reconhecida no terreno, percebemos que não tínhamos sequer sinal da Pedra Menina. Começamos então a saga para achar o tal maciço.

Foram cerca de 2 horas para visualizar a pedra, isto mesmo, duas horas de muita subição de morro e caminhadas em vão, até nosso companheiro Gustavo Vianna descer até o vilarejo e perguntar aonde se encontrava a tal Pedra Menina. Está aí a importância de um bom beta e um bom relato: evitar a vergonha de ir escalar e ter a sensação de que sequer a pedra você conseguirá ver.

Se tivéssemos o mapa que desenhei no capítulo acima, teríamos sido poupados dessa roubada que teve como consequência a nossa sede mortal no meio da via num sol escaldante.

Ao visualizar o maciço, começou nossa saga para encontrar a base da via. Isto também não foi nada fácil. Acabamos entrando numa via errada, segunda mancada dos caipirões de primeira: Pastor, Gustavo e Eu. Mas era pra isso que estávamos lá, quebrar a cara, consertar o erro, e entrar em outra roubada logo em seguida. Permanecemos nesse loop infinito até domingo a noite. Não faltou diversão hora nenhuma.

Pelos nossos cálculos, nós entramos por engano na via choquito, uma via inacabada. Tínhamos a informação do croqui que havia um totem na base da via e os primeiros lances eram numa canaleta. Aparentemente este totem havia sido levado pela chuva. Como a via choquito começa numa fenda bem grande em um “totem” enorme, decidimos acreditar que ela era a canaleta.

O guia logo percebeu o erro, desceu da via ,e, enfim, lá pelas 10:00h aproximadamente conseguimos finalmente achar a base da via, cerca de uns 15 metros a direita da choquito.

Ou seja, foram cerca de 4 horas de tropeços para enfim começar a melhor curtição! E, enquanto isso, nosso estoque de água só baixava.


Primeira enfiada da via No Último Minuto - Pedra Menina - Como deu trabalho simplesmente chegar até aí!


A escalada:

A primeira enfiada da via é bem legal. Um 6sup com uns 2 lances mais técnicos. Não utilizamos o móvel antes da parada como dizia no croqui. O estilo da escalada é de muita aderência. Poucas agarras de mão passam confiança. A rocha é aderente, mas os lances muitas vezes são adrenantes.


Bernardo Pastorine (Pastor) chegando na parada P1

A segunda enfiada segue o ritmo da primeira: agarras de pé e mão bem pequenas, muitos lances de aderência e equilíbrio além da sensação constante de a qualquer momento escorregar via abaixo. Há um lance de 5sup esticado. O final é uma travessia horizontal delicada. Muito boa esta enfiada.

A terceira enfiada pode gerar dúvida. Deve-se continuar na travessia horizontal somente um grampo após a parada P2, e, a partir daí seguir verticalmente. Nós seguimos os grampos horizontais na travessia e acabamos entrando em outra via que não sabemos o nome (terceira grande mancada, vou parar de contabilizar de agora pra frente). Esta terceira enfiada termina numa outra travessia horizontal no sentido contrário. Bem mais tranquila que a primeira. Tranquila em termos, pois, foi nela que nosso maior incidente ocorreu.


Pastor e eu, errando a linha da via após a P2. Inocentemente felizes..

Nessa última travessia aconteceu um infortúnio com nossa equipe. O segundo a subir levou uma enorme vaca próximo ao penúltimo grampo da travessia, como era uma passagem horizontal, a queda foi em pêndulo, daquelas ruins de tomar. A vaca foi longa com direito a duas quicadas na parede. Passado o enorme susto inicial e conferida a situação de nosso companheiro, juntamo-nos na parada P3 para avaliarmos nossa condição. A situação era a seguinte: havia uma possibilidade pequena de chuva, estávamos tomando muito sol e com muita sede. A água estava praticamente no fim. Faltavam mais três enfiadas no total: uma com um final bastante exposto (4a enfiada), uma enfiada fácil (5ª enfiada) e um trepa pedra até o cume (6ª enfiada). O psicológico da equipe estava abalado devido a vaca e a sede. Mas decidimos terminar a via: eram 3 rapéis e ficar sem cume, ou 3 enfiadas e sair com cume. Bora tocar pra cima então!


Eu guiando rumo a parada P4 (ou P3 não lembro)

A quarta enfiada é bem interessante e ótima para se guiar, até o penúltimo grampo. Para chegar na parada P4, há um diedro de cerca de 6 metros sem proteção. É muito exposto (E3) e não convém cair. Lembro-me de engolir seco ao ver a distância que a próxima proteção estava de mim, não queria ser o próximo a sair quicando pela parede, porém, a sede estava tanta, a vontade de voltar ao acampamento e beber água era tão grande que eu nem titubiei muito em começar logo a subir aquele diedro. Foi o lance mais exposto e adrenante que já guiei. Fiquei muito satisfeito com a superação do medo.

A quinta enfiada é relativamente tranquila. Mais positiva, porém, a pedra fica cada vez mais lisa e tem apenas 3 proteções em 60 metros.
A sexta enfiada talvez nem mereça ser considerada um enfiada. Subimos todos a pé, sem proteção.


Os três mortos de sede no famigerado CUME!!!

Toda a escalada durou cerca de 4 horas. Ou um pouco mais talvez. Para poder beber água, ainda tivemos que caminhar quase uma hora até nosso acampamento, o qual confirmamos estar localizado no meio de lugar nenhum bem distante da pedra.

Para terminar nosso dia light ainda tivemos que juntar forças para mudar nosso acampamento de lugar, fomos para perto da pedra. Quando enfim me encontrei deitado no colchonete da barraca não gastou nem 5 segundos pra eu apagar, mas, ainda deu tempo de dar umas risadas sozinho pelo dia incrível que havíamos tido. 



O naipe de como andávamos mato a fora. Dica útil, nunca leve a porra duma caixa de papelão pra andar no mato. Dê um jeito de caber tudo nas mochilas.

A investida como um todo foi muito exaustiva, a sede foi o perrengue mais marcante. O aprendizado com relação à logística e informações precisas foi enorme, além disto, o aprendizado técnico com relação aos procedimentos, monitorado pelo nosso companheiro Gustavo Vianna, foi muito bom.
A intenção a princípio (quando saímos de Belo Horizonte) era encarar outra empreitada no dia seguinte, porém, concluímos que já havíamos tido emoções suficientes, e, então, reservamos apenas uns treinamentos leves de escalada em móvel para o domingo. Foi a melhor decisão que podíamos ter tido.


Autor do relato: Gilberto Martins Assunção Valadares da Silva

Croqui da via No Último Minuto

Croqui da Via No Último Minuto - Pedra Menina MG 


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Via Italianos com Secundo - Pão de Açucar- RJ

Pão de Açucar – Via Italianos com Secundo – 24/01/15




Preparação:

Para nossa primeira via de parede no Rio de Janeiro-RJ, Gustavim, Pastor, Tata e eu (Gilberto Siva) decidimos pela clássica via dos italianos com secundo 270m (5º V E1 D1/D2) que leva ao cume do pão de açúcar. É uma linha linda, logo abaixo dos cabos de aço por onde passam os bondinhos.

Nossa base de informação foi o Guia de Escaladas URCA, do Flavio Daflon e Delson de Quiroz, além de relatos da internet. Os croquis e informações do livro do Daflon são bons. Eu estava com uma versão mais antiga, de 2004, ao compará-la com a mais atual, preferi a minha, pois continha menos informação desnecessária (outras vias e variações). O croqui estava simples e bom.

A via é 100% de proteções fixas. São necessários uma corda de 60m e pelo menos 13 costuras com fitas longas (40cm.. 60cm.. 1,2m).

Aproximação:

Chegar até a via é bastante simples. Obviamente qualquer taxi te leva até o pão de açúcar. Daí basta seguir a pista Claudio Coutinho por cerca de 700m e a entrada da trilha estará a sua esquerda. A trilha é muito usada tanto para quem quer alcançar a face oeste do pão de açúcar quanto para os turistas que desejam subir a pé até o morro da Urca, primeira parada do bondinho. O caminho é bem aberto, porém íngreme. É cerca de 1km, que dura cerca de 20/30min de caminhada até a base da via dos Italianos. Deve-se virar a direita na bifurcação principal entre morro da Urca/pão de açúcar, e depois seguir sempre reto independente das bifurcações. Difícil errar.
Inicio da trilha que dá acesso a via italianos com secundo

A Escalada

Completamos nosso café da manha na lanchonete que abre às 6 horas na pracinha onde inicia a pista Claudio Coutinho. Seguimos a trilha e chegamos por volta de 7:30 na base da via. Para nossa decepção já havia um trio de gaúchos na nossa frente, e, 10 minutos depois chegou outra dupla que acabou desistindo, pois, iniciariam a escalada muito tarde. O sol começa a bater na via por volta de 11 horas (estávamos no horário de verão).

Para cordadas que estão indo pela primeira vez, é necessário cuidado para identificar a linha dos primeiros grampos da via. A variante Artéria da Alucinação (7o grau técnico) é bem mais visível e obvia que a linha dos primeiros três grampos da italianos, isto pode certamente causar enganos. Os primeiros grampos da italianos seguem bem bela caneleta, não chega bem a ser uma fenda, e depois vira a direita se juntando a Artéria da Alucinação.

Nosso grupo era dividido em duas cordadas: 1 - Gustavinho e Pastor, 2 - Tata e eu. O trio gaúcho permitiu que nossa primeira cordada iniciasse na frente deles, parece que estavam interessados em alguém passar a primeira proteção para eles. Nesse momento eu já estava numa ansiedade brava pra começar a escalar e bem decepcionado com a espera que a principio seria necessária, isto indicava que iríamos gastar bem mais tempo que o previsto e provavelmente escalar num sol escaldante.

O Gustavo não teve problemas para vencer a primeira enfiada rapidamente, seguido pelo Pastor. Logo em seguida o guia do trio gaúcho começou sua escalada num ritmo lento, aparentando dificuldades com o nível da via. Eu pedi então para escalar ao mesmo tempo em que ele, pois, de toda forma usaríamos uma parada acima da que eles pretendiam usar. Ultrapassei-o no crux, pude então ajuda-lo a passar sua corda na próxima proteção. O lance do crux é bem técnico, os regletes são pequenos, porém, a parede é levemente positiva. Deve-se subir um pé esquerdo bem alto, próximo ao grampo, enquanto o pé direito está num agarrão em forma de sorriso. Eu não hesitei em subir o pé logo no grampo e toquei rapidamente.
Tamires Vargas (Tata) chegando na primeira parada da Via dos Italianos
A segunda enfiada foi tranquilamente guiada pela Tamires, seguimos este ritmo revezando as enfiadas até o cume. A escalada continuou com o mesmo estilo: agarras pequenas, muita opção de pés, parede levemente positiva, visual incrível e muita curtição.
Gilberto Silva chegando no platô do fim da via dos Italianos

Gilberto Silva chegando ao final da travessia entre a via dos italianos com a via Secundo
A via dos italianos termina no fim desta segunda enfiada, num platô enorme, perfeito pra tomar uma água e lanchar. A partir daí tomamos a variante para a esquerda com o objetivo de chegar na via Secundo. Esta travessia é bem tortuosa, e, para ser possível fazê-la em apenas uma enfiada sem muito arraste, são necessária pelo menos umas 4 fitas de 1,2m. Eu não tinha estas fitas, então decidi usar a parada do meio da travessia, que também é um platô enorme.


A via secundo é no mesmo estilo da via dos italianos, com exceção da última enfiada, que tem um estilo diferente: pedra menos croquenta, mais positiva e com muitos lances de oposição em fenda. Mas o grau nunca varia muito, é sempre um 5, ou 5sup por aí. Alguns esticões normais, nada de assustador.
Tamires Vargas (tata) chegando na parada da 5 enfiada da via italianos com secundo

A parada da segunda enfiada da secundo (nossa sexta enfiada) gera um pouco de dúvida, é necessário passar um trepa-mato duvidoso. Seguimos a informação do croqui, contamos 6 proteções e os dois grampos estavam realmente lá! Tocamos para a direita para iniciar a última enfiada, não é bem necessário utilizar proteção neste pedaço, é um platô bem tranquilo.

Gastamos 5 horas aproximadamente, é possível fazer a via tranquilamente em algo em torno de 4 horas. Mas o mais interessante é ir com calma curtindo o visual. Em nosso ritmo teríamos pegado sol no fim da via, mas por sorte estava nublado.

A descida é tranquila, pode-se pegar o bondinho “de grátis” até o morro da Urca, a partir daí deve-se seguir a pé. Ao descer a trilha do morro da Urca chegasse ao mesmo ponto do início de toda jornada. Neste momento dá uma sensação boa de pensar em quanta coisa interessante aconteceu entre a subida e a descida desta mesma trilha.
Gustavo Veiga (gustavim), Bernardo Pastorine (Pastor), Gilberto Silva (betão) e Tamires Vargas (tata) chegando ao cume do pão de açucar!!!
No geral todos nós curtimos muito a via. Não é necessária muita força física, a rocha é sempre levemente positiva, porém, as agarras de pé e mão são quase todas bem pequenas, isto faz com que seja necessário estar sempre atento no equilíbrio, posicionamento e ter um bom trabalho de pés. Ou seja, a via não é difícil, mas, também não é de graça. Todos os fatores envolvidos tornam esta uma via clássica e imperdível.


Autor do relato: Gilberto Martins Assunção Valadares da Silva