terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Escalada esportiva no México

México rock climbing trip

El Potrero Chico e El Salto


O México é hoje um pólo da escalada esportiva mundial, sendo a região nordeste do país a mais tradicional. Monterrey é a principal cidade para receber os viajantes internacionais, localizada a 50km de distância dos dois melhores picos mexicanos: El Potrero Chico (EPC) e El Salto.

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Vista de trás do maciço principal de El Potrero Chico. A parte laranja é todo o setor Outrage Wall, um dos melhores do pico para vias esportivas.

O primeiro subcume à esquerda é o sertor Timewave Buttres,onde começa uma das vias longas mais tradicionais: Timewave Zero, 23 enfiadas que levam ao cume chamado El Toro, o mais alto do maciço.

El Potrero Chico (EPC)

O grande diferencial oferecido no México é certamente as vias longas de "El Potrero Chico", onde com um material simples (20 costuras) é possível escaladas incríveis de 100 - 600 metros muito bem protegidas. O calcário da região torna a escalada bastante prazerosa, oferecendo uma boa variedade de agarras e pouca sensação de sair escorrendo pedra abaixo como nos tradicionais slabs de granito. Outro fator atrativo da região é a facilidade da logística: A caminhada para a maioria dos setores é mínima, o material necessário é mínimo, pois, as enfiadas são praticamente sempre de 30 metros, o que possibilita a escalada somente com uma corda de 60, e como já dito, a oferta de vias de proteção fixa é predominante na região.

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Iniciando a guiada da 5ª enfiada da via Snot Girls. Uma das mais classicas do pico. Esta 5ª parte é muito incrível: escalada em lacas que me fez imaginar estar no Yosemite

A temporada da região começa em novembro e vai até março, com períodos de frio intenso perto da virada do ano, havendo inclusive registros de neve em algumas ocasiões. Durante a temporada quente, é melhor não insistir em visitar o local, pois a incidência do sol atrapalha muito a escalada, tanto em Potrero quanto em El Salto.

No geral, EPC não é muito recomendado para escaladores muito fortes, há poucas opções de 9º (br) e praticamente nenhum 10º. Por outro lado, o pico é o paraíso para os inciantes; são incontáveis vias de 5º e 6º grau. Com relação as vias multipitch, considero o fator grau bem menos relevante, as experiencias são muito válidas independente do nível de dificuldade da via. No entanto, vale dizer que a maioria das opções são totalmente factíveis para quem está abaixo do 8º (br). Pode ser necessário em alguns casos dar aquela ajudinha na costura, mas agarrado na parede ninguém ficará.

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Final da 4ª enfiada da via Space Boys. A via inicia-se no banco da praça do "clube" situado na base do maciço. Logística muito simples para uma aventura muito recompensadora.

Chegar em Potrero a partir de Monterrey é simples, são apenas 50 km de distância. A "La Posada" faz serviços de transfer por um preço razoável (aproximadamente 200 reais), se não estiver sozinho, esta é uma boa opção, pois é possível meiar esse valor. Há também serviços de ônibus para Hidalgo - vilarejo colado em Potrero (5km a pé). Alugar carro torna tudo muito fácil, no entanto, considerando as distâncias de apenas ~1km dos locais de hospedagem até os setores, um carro em Potrero Chico torna-se um luxo. A vantagem certamente é poder ir até os marcados de Hidalgo (5km) com facilidade. Vale citar que alugar carro no México é uma "roubada", pois, o seguro padrão oferecido no momento das reservas pela internet é bem resumido, e o seguro completo oferecido no guichê é cerca de 2 vezes o preço do aluguel. Não faz o menor sentido. 

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Cume da via Snot Girls

Assim que se chega em Potrero o impacto visual do maciço é muito forte. Ficar simplesmente matando o tempo curtindo a imponência da montanha já é bem relaxante. Eu fiquei por dias na região e não consegui me acostumar com o visual de calcário infinito.

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Gilberto, Tamires, Fernanda, Felipinho e o visual incrível do maciço de El Potrero Chico visto do estacionamento da hospedaria "La Posada".

Os setores de escalada estão divididos basicamente em dois grandes grupos: A metade leste e a metade oeste, tomando como referencia a estrada que o corta a montanha ao meio. 90% dos setores são bem proximos um do outro e também da estrada. É possível variar os locais de escalada ao longo do dia sem problemas.

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Tamires Vargas iniciando a guiada da 4ª enfiada da via "El Sandero Diablo". Desafio incrível nas paredes laranjadas do setor Outrage Wall. Esta foi uma das vias que mais gostei de fazer em El Potrero Chico.

Resumindo minha experiencia e betas de El Potrero Chico, eu diria o seguinte:

A escalada e o visual da região são surpreendentes. A quantidade de vias é muito boa, mas a oferta de vias de 8º possíveis de escalar na sombra durante o período de 11am - 15pm deixou um pouco a desejar (depende também da quantidades de dias que você ficará no local). Em épocas frias isto não é problema pois o sol praticamente não irá atrapalhar.
A viagem em geral é barata, principalmente para quem estiver disposto a acampar. Comida e hospedagem não são caras, mas também não há muitas opções. O principal ponto a se levar e consideração para ir ou não ao México, é o intuito da viagem. Se o foco é a escalda, o Mexico é uma ótima opção, se o intuito é climb + turistagem, melhor repensar, pois, basicamente a única coisa que há pra fazer após o dia de climb é ir para o restaurante da "La Posada" - principal hospedaria do local. Fora isto, praticamente nada é ofertado, exceto um ou outro boteco. Se o intuito da viagem é focado no climb, isto não é problema, mas pra quem procura maior diversidade de atividades, eu não recomendaria o local.

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Jantando num dos poucos restaurantes disponíveis em El Potrero Chico. Comida mexicana clássica: tacos, burritos, tostadas etc.. oferece inclusive muitas opções veggies pros interessados.

Apresentado o ponto menos atrativo de Potrero, vamos agora ao melhor que a região oferece: Vias multipich incríveis, com linhas maravilhosas e cumes muito bacanas!

Até viajar para EPC, minha esposa e eu havíamos escalado algumas vias multipich na vida, mas nossa praia sempre foi o mundo prático das esportivas. Chegando em El Potrero, logo no primeiro contato com uma via de apenas 3 enfiadas nós fomos tomados completamente pelo desejo de experimentar todas aquelas linhas lindas, indo aos vários subcumes do maciço principal. Cada via oferece uma série de desafios muito variados; positivos de agarras, verticais de fendas, diedros, leves negativos etc... e tudo sempre relativamente bem protegido (comparando ao padrão das multipich brasileiras que são sempre beeem esticadas).

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Tamires Vargas chegando ao final da 2ª enfiada da via Las Estrellitas. Esta via é bastante classica e chega num cume bem bacana; outra vantagem é que o rapel é pela parte de trás e é bem curto (4 reapeladas somente). É uma boa opção pra inciantes, pois o nível de escalada exigido é bem tranquilo.

Um dos aspectos mais interessantes é a evolução na parceria da dupla de escaladores. A melhoria na logística e nos procedimentos é fundamental e bastante natural ao longo dos dias de escalada. A cada enfiada são descobertos pequenos detalhes para facilitar a comunicação e ganhar agilidade, esse processo é muito gratificante. Após alguns dias, atingir os cumes passa a ser uma atividade normal, e o prazer na escalada só aumenta. Isto é claro se a parceria for ponta firme, e nisto, não há nada que eu possa reclamar da minha parceira incrível.

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Experimentando as esportivas do setor Las Estrellas. Escalada vertical em regletes e muita movimentação técnica. Este setor oferece vários 8º (br) incríveis.

A experiência em Potrero acrescentou muito para minha escalada, a tranquilidade do local proporcionou uma viagem muito relaxante. Os mexicanos são pessoas muito amigáveis, masss... muito barulhentas também. Adoram musica alta (tipo um sertanejo bregasso) e curtem muito uma cerveja; até aí tudo bem, mas espalham as latinhas e bitucas de cigarro pra tudo que é canto. Nada muito diferente do nosso Brasil, mas como os setores são muito próximos da civilização, esse fator desagradável acentua-se.

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Gilberto Silva no fim do diedro da via Don Quixote. Um diedro liseba que deu um espanco na turma toda. Pra quem curte uma tecnera, sintam-se a vontade.

Potrero Chico ainda conta com uma atração bastante singular: O Trailer do Edgardo. O acostamento da estrada entre as duas faces do maciço é bastante amplo, e ali, todo dia por volta das 15 horas chega o singular trailer do maior empreendedor de Hidalgo e região, cujo nome é Edgardo. Esse cara faz parte dos conquistadores e desenvolvedores do pico; já escalou praticamente tudo na região e vive da renda de prestar todos os serviços que os turistas escaladores precisam: venda de equipamentos básicos, ressola de sapatilha, cerveja artesanal, pizza, câmbio e tudo mais que um escalador necessite. Lá é o ponto de encontro do fim de tarde. Lugar excelente pra conversar com pessoas de todo canto do mundo. A maioria dos frequentadores são dos EUA e Canada.

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Gilberto, Tamires e Pedro curtindo o fim de climb no trailer do Edgardo. Esse cara é a vibe de Potrero.

Os principias setores de escalada esportiva são:

Surf Bowl: Caminhada puxada pro nível da região: 15-25 min subida íngreme. Um setor bem pequeno de escalada em tufas levemente negativas. A maioria das vias é de 8/9 grau (br). Há apenas cerca de 8 vias neste setor, mas são todas muito boas. Em dias quentes, é melhor evitar este setor no período de 11am - 14pm devido a incidência do sol.
Outrage Wall: Setor incrível para as esportivas. Calcário laranjado maravilhoso. Sofre muita incidência do sol, logo, só é recomendado no inverno ou em dias nublados.
Las Estrellas: Contém uma boa quantidade de vias verticais de regletes. Ótimas opções de 8 grau (br)
Virgin Canyon: Este setor oferece sombra o dia todo, no entanto, praticamente todas as vias são do mesmo estilo: vertical levemente positivo; e a grande maioria são vias de 6º grau.

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Testando os negativos de tufas e lacas do setor surf bowl. Escalada bem parecida com El Salto neste setor.

Sobre as vias multipitch, não há um setor específico a procurar. Todos os setores oferecem no mínimo uma via muito clássica a qual sempre termina num cume bem bacana. As que eu indicaria sem dúvida seriam as clássicas Space Boys e Snot Girls, além da El Sandero Diablo. Todas estas são experiencias sensacionais que por si só já valem uma climbtrip.

Com relação a hospedagem, Potrero Chico oferece algumas opções. Os preços variam, mas em média, gasta-se 75 reais por dia pra cada pessoa, isto para ficar em pequenas casas ou quartos duplos.
O local mais famoso é certamente o La Posada, no entanto, o que eu mais recomendo é o chalé disponível pelo airbnb (https://pt.airbnb.com/rooms/9127588?). Essa cabana fica de frente para a montanha, num visual incrível. Não oferece internet nem geladeira.. é um ótimo lugar pra se desligar total do mundo e viver somente as aventuras da imensidão de calcário.

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Cabana disponivel pelo airbnb (link no texto acima)

El Salto


Chegar em El Salto a partir de Monterrey é um pouco mais complicado do que ir para Potrero. A vila de El Salto se chama Cienega de Gonzales. Não adianta procurar por informações do lugarejo, pois praticamente ninguém em Monterrey irá saber do que se trata. Se um carro alugado não estiver disponível, o ideal será procurar antecipadamente na internet por taxis que façam o serviço de transfer. Uma vez em "El Salto", o carro é totalmente desnecessário. Ir para setores só é possível a pé e o vilarejo não oferece nada que justifique o uso de um.

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Trilha que leva aos setores Las Animas e Tecolote Cave. Caminhada tranquila num visual alucinante.

A hospedaria principal dos escaladores em El Salto é a da Dona Kika. Trata-se de uma pequena mercearia na beira da rua principal com algumas casinhas de aluguel ao fundo. É bem localizada entre o início das duas trilhas que levam aos setores La Boca e Las Animas + Cueva. A Dona Kika oferece camping e casas de aluguel para até 8 pessoas. O preço é combinado na hora e geralmente cobra-se por pessoa, e não pela casa. O beta é tentar locar o chale superior, de madeira, que é bem bacana e bem cuidado, pois, a casa que ela oferece na parte de baixo é velha e mais zela.

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Chalé disponível para temporada na Dona Kika.

A região de Cienega de Gonzales é turística nos finais de semana. São vários vilarejos espalhados ao longo da região extremamente montanhosa. A altitude é elevada e a temperatura é consideravelmente mais baixa que Potrero Chico. Nos finais de semana o volume de turistas locais é intenso, e a maioria utiliza quadricículos ou pequenos jipes 4x4 extremamente barulhentos e desagradáveis. O setor de escalada principal, Las Animas, fica bem próximo da trilha desses offroads, o que torna a escalada durante os finais de semana um tumulto definitivamente.

Agora falando do que interessa: Escalada! Saindo da hospedagem da Dona Kika, são cerca de 20/25 minutos de caminhada leve até o melhor setor: Las Animas. As vias ficam ao lado da estrada, é impossível não vê-lo. É o maior número de vias incríveis juntas que ue já vi na vida! Ao total são cerca de 45 vias, pude experimentar umas 8, e nenhuma foi sequer mais o menos, todas eram espetaculares! A parede é vertical levemente negativa, com um mix de tufas, regletes e lacas em sequencias incríveis, apertando e aliviando ao longo da escalada. Ali, a oferta de 8º, 9º e 10º (br) é bem farta. Para escaladores que queiram focar em cadenas esportivas, El Salto é mais interessante que Potrero, no entanto, o visual e a vibe de Potrero é bem mais atraente que El Salto (mais turistas em Potrero, trailer do Edgardo, visual de calcário infinito, etc... ). Mas no quesito escalada esportiva; El Salto é sem igual.

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Voltando da trilha da Tecolote Cave, na foto estamos passando pelo setor Las Animas. Este é o melhor setor de El Salto, possui a maior concentração de vias incríveis por m² que eu já vi na vida.

O setor Cueva del Tecolote é trabalhoso de se chegar. São cerca de 45 minutos de caminhada. Siga direto na trilha do setor Las animas, e,  cerca de +-800 metros canyon abaixo você irá vê-lo à sua direita, no alto (guarde bem esse beta, não é ao lado da estrada igual ao Las Animas). A caverna fica parcialmente escondida pela vegetação no topo de um costão à direita. A entrada da pequena trilha que dá acesso é bem discreta. Uma vez lá, as vias hard de teto e tufa estarão ao seu dispor. A via mais clássica do local é a Nosferatus, um 8c (br) de resistência de negativo bem interessante. Foi a única via que experimentei no local, pois, erramos a trilha de acesso e já chegamos  mais mortos do que vivos.

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Gilberto Silva escalando a via Nosferatus na Tecolote Cave

O setor La Boca não visitei, mas aparentemente se parece com o Las Animas, com uma oferta maior de vias de 6/7º.

Os canyons da região são muito bonitos, e ainda oferecem um potencial para desenvolvimento da escalada. O setor Las Animas em si já vale a visita sem sombras de dúvidas. Vale dizer também que a grampeação do local é muito boa. Muitas vias de grampos químicos, costuras permanentes, tops duplos de boa qualidade. Um belo trabalho dos conquistadores.

Um bom blog para conseguir croquis e betas da região é o seguinte: http://climbing-mexico.over-blog.com/el-salto





Autor do post: Gilberto Martins Assunção Valadares da Silva



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